sábado, 24 de outubro de 2009

Perde-te na admiração do ser admirado

Pintura: Chagall - O casal (a sagrda família)

Não enxergo aproximação sem admiração.
Fulana, somos feitos para a admiração. Admirar a formosura com a qual o homem veste a roupa, os dizeres. Admirar a forma como ele contempla um pôr-do-sol, uma orquídea, uma criança. Admirar como ele se comove com a velhice, com a infância da velhice. Admirar sua lealdade com a intensidade, com os amigos. Admirar seu bom gosto por músicas clássicas, como declama poemas do Pessoa, o jeito como cerra as pálpebras. Admirar-se com a forma com que a mulher põe o rímel, o baton, os acentos nas palavras. Como cuida dos filhos esquecendo-se de si. Como cuida do marido esquecendo-se de si, como cuida do jardim esquecendo-se de si; como cuida de si, lembrando dos filhos, do marido e do jardim. Admirar. Admirar-se.
Admirar com a voluptuosidade de olhos que se derramam sobre as palavras de um romance, de um poema, de um bilhete de amor, como se fosse nudez desejada. A minha admiração veio da sutileza de algo em ti. Ainda não sei bem dar nome ao que vi. É preciso admirar e perder-se na admiração do ser admirado.
Alessandro Palmeira

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