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domingo, 3 de outubro de 2010

De caso com Destino



As mãos trêmulas com o peso do passado procuravam um rumo.
Só sentia o corpo gelado como madrugada de nevasca.
Assim ela chegou de forma inesperada como acidente em curva perigosa, era a saudade.
E o coração ficou trincado como lago congelando na superfície.
A prótese implantada não conseguiu suportar a pressão, e novamente estava o destino sem poder ser percorrido sem marcas explícitas na sua vida.
A tristeza escondida na escuridão dos dias existia em agonia. O amor que ainda não sabia quem era, só sabia que existia.
A lembrança decidiu abrir as cortinas para aqueles olhos que agora pensavam em chorar.
Mais tarde era um sonho longe de percorrer.
Ah, sim, era muito longe.
Brincar de fazer origami com tempo quando a imaginação já não tem asas pra voar.
Os joelhos estão feridos de preces rogadas, e os olhos já não acreditam no milagre da cruz.
E os temores infantis ainda estão guardados no porão da minha vida.
Abrir a porta dos medos; ela ousará?
Não. Não ousará. Sentir já dói muito.

Izabel Goveia

terça-feira, 13 de julho de 2010

Inundando-me no viver - Como não seria assim?

Ele vive sentado na janela das paisagens que tanto aprecio.
É só dar um vento no capinzal, que lá está ele. Confundo-me no que é mais belo, se o capinzal ou a minha procura de um olhar.
Valsando com a menina dos meus olhos, ele faz do meu sono uma festa.
Esconde-se na cortina entrelaçada dos meus cílios para depois me desejar bom dia.
Brinca de acalento nos meus cabelos, trançando de poema minha manhã.
Quando triste, ele flutua nas minhas lágrimas e chora junto com elas.
Do meu olhar o que será ele, senão uma eterna colheita?
Uma apreciação.
Tão colibri ele é, fazendo pouso na saudade já apurada como mel de flor.
Do sempre, quero somente o manchado envelhecido do tempo nas folhas de um papel em que deixarei escrita a devoção das minhas palavras.
Izabel Goveia

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Desabrigando anseios


Um dia fugi de casa.
Como pássaro que vai embora por uma distração do seu dono e nunca mais volta à gaiola.
Joguei fora aquele brinco, cujo par eu perdera em uma noite que já não faz mais sentindo algum.
Também deixei que escapasse o cheiro envelhecido das pétalas mortas de amor perfeito que eu guardara dentro daquele livro predileto.
Acordei aqueles olhos inocentes que dormiam em um sonho fugitivo.
Abri as comportas e me deixei levar pela correnteza.
D
o silêncio deixado jorrar, ouvi gritos contidos naquele velho sigilo trancado.
Fugindo, fui deixando pelo caminho as peças de roupas que não me serviam mais.
Percebi que era pouco o que tinha agora.
Parei, olhei tudo se dissipando e segui, levando apenas um bando de pensamentos.
Só isso.

Izabel Goveia

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Solidão: lado a lado com ela


Tenho medo da solidão.
Quando sinto o seu cheiro pela rua e o leve toque das suas mãos acariciando meu corpo.
Apavora-me e encanta, a sua respiração ofegante arfando ao meu lado. Quando apago as luzes e a sua alma gelada de fantasma me perturba e dorme ao meu lado.
Tenho medo dessa solidão que chega de repente no riso inexpressivo.
Dessa solidão que me aborda na hora do choro sem um ombro disponível ao sofrer impregnado.
Solidão é a falta de ar quando dói o peito.
Tenho medo da solidão no copo vazio, quando espero alguém com carinho.
Tenho medo da solidão em cada ruga que me aparece.
Onde tenho mais medo da solidão, é quando a encontro ao redor de quem eu queria companhia.
A solidão me afeta os nervos, desfigura meus sonhos.
Com ela nos encontramos em terra fria.
Tenho que suportar a solidão quando se faz em nó na garganta.
Tenho medo da solidão nas palavras.
Quando o coração chama em silêncio pelo amado.
Tenho medo dos seus olhos na embriaguez barata que se estende na madrugada.
Na manhã cheia de ressaca amarrotada de noite.
Demasiado é o degustar da sua companhia.
E, quando a chuva vier, quero me despir dessa capa nostálgica que me envolve.
Molhar-me na abundância de uma coisa chamada vida.
Não compreendo, mas a solidão me alucina.


Izabel Goveia

segunda-feira, 15 de março de 2010

Adornando a Solidão de uma Manhã


A moça na janela olhava com sutileza os pingos de chuva que fluíam das nuvens densas.
Seu olhar perdido nos delírios daquela ilusão de chuva ansiava por descobrir os sabores de tantos poemas celestes que agora caíam em suas mãos pequenas e delicadas.
A essência das flores perfumadas que aromatizam a manhã da moça sorridente é trazida pelo vento que chega sorrateiro, para não roubá-la da paisagem em que está inundada.
Uma melancolia nasce, chega com a leveza dos pingos que se despendem choramingados nas margaridas que, por gentileza, nasceram nas pequenas brechas que as pedras deixaram aleatoriamente.
Quem via aquela cena, jurava que nada de mais importante estaria acontecendo naquela manhã com semblante de pintura, uma manhã agasalhada com seus cachecóis.
Mas, alimentando de alegria os olhos daquela moça, um casulo se rompeu e o velho canteiro de flores se alegrou com a chegada colorida de uma borboleta ainda menina, mas que carregava nas suas asas a alegria de uma primavera.

Izabel Goveia

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Rasgando a dor e agonizando um sentir


Hoje o meu despertador foi o barulho do vento nas cortinas, o sol foi abrindo a porta devagarzinho, acordando meus olhos preguiçosos.
As cobertas aquecidas quase não me deixaram levantar, com frio leve que adornava o meu quarto.
Acordada, comecei a fazer as primeiras coisas do meu dia corriqueiro.
Tomei meu café da manhã e, amante devota, pensei nele como prato predileto, claro que com essa refeição me alimento sempre em pequenas porções para que seu fim seja tardio.
O que vou fazer do meu dia? pensei.
Primeiro quero degustar todos os temperos solitários dessa manhã, em que me olho tristemente no espelho para não me sentir tão só.
Meus olhos são vazios.
Vejo-te pelos quatro cantos da casa.
Queria ser dança para os teus passos desnorteados.
Queria ter, aos teus olhos, uma elegância no caminhar.
Amo os teus vícios, a tua elegância quase rude.
Queria eu que a simetria das minhas curvas fosse perfeita para os teus caprichos.
Sinto a lembrança me beijando a pele, os meus dedos entre os teus cabelos pequenos.
E um cansaço lacrimejado me abriga, como casinha no campo em plena tempestade.
Diante das algemas, estou entregue.
Hoje o que tenho a te ofertar são as minhas dores, meus cansaços, os meus braços já entregues à seringa, doando a última lágrima de sangue que resta nas veias.
Vivo sempre adubando meus dias, mas sempre vem o verão e resseca a terra em que minhas ilusões foram plantadas.
Meu corpo não tem luz própria.
Cá dentro dói.
Teus olhos outonos me deixam triste.
O enigma da fumaça se misturou a meu sonho e agora não sei me decifrar.
Tudo é tão sombrio.
Quero a embriaguez das melhores flores para o meu dia fúnebre.

Izabel Goveia

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Na margem do tempo

Pintura: J. R. Nettzo

Tempo, tempo...
Passei os olhos por ele, monotonamente.
E cada gota sua parecia lágrima, um orvalho, talvez.
Uma coisa sem forma.
Quem sabe também, um amanhã que não virá ou que um dia já passou voando além de mim.
Bem acima dos meus sonhos, há uma casa vazia cheia de vento.
Já o vento, é um belo companheiro, pena que passa e tudo decorre através de suas correntes prazerosas.
E eu sentada num pedaço de lugar, de qualquer lugar, observo tudo ir embora preso aos outros.
E tudo e ele.
E eu permanecendo pedra por fora e sonho por dentro, talvez exista.
Como dói transbordar.
E ele escorre, desliza vagaroso, sem pressa.
Umedecendo minha alma, como noite fria na calçada.
Um relento coberto.
Boneca de pano jogada fora.
E, entre o entrelaçado de galhos e folhas tecendo raios de sol, ele também se aflora e eu ainda aconteço como flor, por um instante somente.
Quão bela é a sensação que existe no intervalo das lágrimas, um mundo perdido em uma lembrança.
Florescendo para um sonho vou embora e a torrente se inicia.
Tudo transborda e se faz em correntezas.
Tempo, tempo...
Onde tu estás?

Izabel Goveia

sábado, 26 de dezembro de 2009

A INSTROSPECÇÃO DA ROSA EM TERRENO FEMININO

Ilustração de Tara McPherson

Descobrir.
É assim que tem que ser.
Como um jardineiro busca a beleza de suas rosas cultivando seu jardim todos os dias.
Tem que adubá-lo corretamente, regá-lo nas horas certas, para que, assim, possam nascer novos galhos, novas folhas e flores exalando perfume.
Quando não requer desses cuidados, a rosa chora, emurchece e fica despetalada, ausente dos carinhos das mãos daquele homem que a faz sentir-se em plenitude no seu amanhecer.
Um carinho de orvalho deslizando pelos seus contornos.
Quando está triste, sonha com um colibri.
Na salvação de um beijo, conduzindo sua essência para um germinar em outro mundo, coberto de sensações.
O vento noturno a faz sentir a dor arranhando as suas pétalas e perfumando outros espaços com o cheiro de seus cabelos.
Aroma de mato recém-nascido
Tão misteriosa é a sua beleza.
Morrer para renascer.
Enfim.

Izabel Goveia