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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Programação do 20º Festival de Inverno de Garanhuns - FIG


O Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) chega à 20ª edição comprovando seu fôlego multicultural. Entre os dias 15 e 24 de julho, 17 polos atrativos irão tomar a Cidade das Flores oferecendo ao público uma programação que contempla não só áreas diversas como também um público de diferentes expectativas. Serão 10 dias de oficinas, fóruns de discussão, ações gastronômicas, shows, espetáculos de teatro e dança, exposições de arte e fotografia, mostra de cinema e circo.

Nesta edição, o FIG homenageia os 50 anos do Movimento de Cultura Popular, que, de 1960 a 1964, durante o governo de Miguel Arraes e Pelópidas Silveira, revolucionou o sistema de educação e alfabetização do Estado por meio da articulação cultural. A expectativa da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que realiza o evento em parceria com a Prefeitura de Garanhuns, é de que mais de 400 mil pessoas circulem na cidade durante os 10 dias do evento.
Apesar das tantas opções, é para a programação do Polo Guadalajara que a atenção do grande público converge. Por lá, a programação começa sempre às 21h e o responsável pela abertura da programação geral do FIG 2010 é Alceu Valença, que encerra a noite do dia 15. Até o dia 24, nomes do porte de Gal Costa, Paralamas do Sucesso, Skank, Pitty, Móveis Coloniais de Acaju, Elba Ramalho, Adilson Ramos e Reginaldo Rossi passam por lá também. A missão de encerrar a programação desse ano ficou a cargo de Paulinho da Viola.


Programação artística oficial


20º Festival de Inverno de Garanhuns


PALCO GUADALAJARADe 15 a 23 de julhoLocal: Esplanada Guadalajara, a partir das 21h


Quinta – 15 de julho
· Muendas de Pernambuco (Garanhuns-PE)
· Orquestra Popular do Recife (PE)
· Espetáculo Pernambuco Nação Cultural (PE)
· Alceu Valença (PE)
Sexta – 16 de julho
· Nação do Samba (Garanhuns)
· Trio Pouca Chinfra (PE)
· Gal Costa (BA)
· Belo Xis com Neguinho da Beija-Flor (PE/RJ)
Sábado – 17 de julho
· Rogério e os cabras (Garanhuns-PE)
· Dona Zefinha (CE)
· Móveis Coloniais de Acaju (DF)
· Skank (MG)
Domingo – 18 de julho
· Banda Flash (Garanhuns-PE)
· Tarcys Andrade, Banda Labaredas e Geneci (PE)
· The Fevers (PE)
· Adilson Ramos (PE)
Segunda – 19 de julho
· Cascabulho (PE)
· Gláucio Costa (Garanhuns-PE)
· Homenagem ao Mestre Camarão (PE)
· Elba Ramalho (PB)
Terça – 20 de julho
· Paulinho Groove (Garanhuns-PE)
· Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (PE)
· Septeto La Botija, Eva Grinan e Gabino (Cuba)
· Reginaldo Rossi (PE)
Quarta – 21 de julho
· Karla Rafaella (Garanhuns-PE)
· Volver (PE)
· Beeshop – Lucas/Fresno (SP)
· Pitty (BA)
Quinta – 22 de julho
· Instinct Noise (Garanhuns-PE)
· Sandália de Prata (SP)
· MV Bill (RJ)
· Marcelo D2 (RJ)
Sexta – 23 de julho
· Lucioly Maranhão (Garanhuns-PE)
· Ligiana (DF)
· Eddie (PE)
· Os Paralamas do Sucesso (RJ)
Sábado – 24 de julho
· Flávio Pontes e Banda (Garanhuns-PE)
· Patrícia Bastos (AP)
· Jair Oliveira (SP)
· Paulinho da Viola (RJ)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Louco Bêbado



Pra que usar de tanta educação

pra destilar terceiras intenções?

Desperdiçando o meu mel

devagarzinho, flor em flor.

Se você nunca ouviu falar em maldição,

nunca viu um milagre,

nunca chorou sozinha num banheiro sujo,

nem nunca quis ver a face de Deus.

Pois aquele garoto que ia mudar o mundo,

e ser artista de nosso convívio,

pelo inferno e céu de todo dia

pra poesia que a gente não vive

transformar o tédio em melodia.

Queria ser teu pão, tua comida,

e ter todo o amor que houver nessa vida

e mais algum remédio que dê alegria.

Esperando que o mundo inteiro acordasse

pra gente ir dormir

e outra vez esquecer,

pois nestas horas pega mal sofrer.

Sempre exagerado,

cansado de correr na direção contrária,

sem pódium de chegada ou beijo de namorada;

mais um cara

capaz de encontrar abrigo no peito de seu traidor.

Um veneno anti-monotonia.

Por quê?

Porque fazia parte do seu show;

faz parte do seu show...

… Cazuza.

Márcio Jardson


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

De simbologia e censura

"Mas é impossível, por muito que se conte como foi, alguém poder entender a humilhação de um escritor perante a censura. É uma experiência muito dolorosa. Nunca mais voltamos a ser os mesmos. É de tal forma cruel que aprendi a auto censurar-me. Palavrões, por exemplo, nunca os consegui empregar. Mesmo nos temas eróticos, que também eram tabu, naturalmente. Lobo Antunes, de outro tempo, emprega-os sem dificuldade". Mesmo depois do 25 de Abril "senti dificuldade em adaptar-me a uma nova escrita."

Urbano Tavares Rodrigues

Quando conheci a música Cálice passava pelo meu período de fanatismo religioso (quem não cometeu seus erros na adolescência?), e a associei de imediato à passagem narrada no evangelho em que Jesus hesita a respeito de sua morte. Passou o tempo, foram-se o fanatismo e a religião, vieram novas concepções e um conhecimento do nosso passado, quando “a nossa pátria, mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações; seus filhos erraram cegos pelo continente, levaram pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais.” As músicas de Chico Buarque tornaram-se essenciais para conhecer uma época que não vivi, na verdade as muitas épocas que não vivi, nas quais alguém que tem o que dizer é forçado a calar-se ou falar por meio de símbolos.
Cheguei a pensar, diversas vezes, que nascera na época errada: uma época em que não poderia ser queimado ou perseguido pelas minhas ideias. Demorou um pouco para aperceber-me que as ditaduras apenas aprimoram suas técnicas de censura. Quem detém o poder econômico não precisa mais comprar senadores e deputados ou financiar máquinas militares para deter o poder sobre a informação. Até se divertem deixando os “independentes” livres para publicar seus textos subversivos na internete. Dá uma ilusão de liberdade de expressão, enquanto o público recebe apenas a informação pretendida pelos poderosos. Diante de tamanha bundialização, de tanta baixaria permitida, de “músicas” sem qualquer conteúdo, esvaziadas na imagem de dançarinas nuas, aqueles que pedem “afasta de mim este cale-se” soam paranóicos.
Jamais vimos um tamanho “pileque homérico no mundo” como agora. O pensamento simplesmente não encontra brechas para mostrar-se. Crianças são lançadas pelos próprios pais na moda da futilidade ainda no ventre materno; o que assistem, o que lêem, o que vestem, tudo rigorosamente pesquisado para agradar o mercado. Quando perceberão que “de muito gorda a porca já não anda”?
Há os que criticam os grandes autores do período da ditadura, afirmando que perderam a criatividade. Simplesmente os símbolos que eram usados já não servem à moda, pois ninguém mais curte a luta contra o poder. E tais autores, ao menos os autênticos, não se renderiam aos símbolos da moda, às fantasiações de vampiremos, escolas de bruxos e bandas adolescentes. Têm uma mensagem, e não esvaziarão seus discursos, vilipendiando a inteligência, para adequar-se ao novo modelo de ditadura.
A censura impõe uma auto-censura que torna os autores um tanto indiretos e simbólicos. Os símbolos continuam poderosos, pois representam o mundo e nossa maneira de vê-lo. Se a música já não os comporta, pois assim determina o mercado, gênios como Chico Buarque migram para a literatura, na qual serão sempre válidos.
O pensador sempre gritará: “Mesmo calada a boca resta o peito. Mesmo calado o peito resta a cuca. Afasta de mim esse cale-se”. E sempre haverá os que, a despeito de todo o barulho que recebem para coibir o próprio pensamento, conseguirão ouvir este clamor e levantar também sua voz. E, assim como Sócrates, dirão: dá-me o cálice de cicuta, pois não negarei minha verdade.

Amâncio Siqueira

Abaixo, trecho do show da Phonogram de 1973, no qual Cálice foi censurada:

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Magnólia – uma flor de concreto e aço

No princípio era o acaso em suas inextricáveis redes de fatos fortuitos, até que a necessidade de ordem da mente humana buscou no caos a lógica, e a rede de acasos tornou-se uma organizada teia de coincidências. É assim que se apresenta a princípio o filme Magnólia, escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson.

“Na humilde opinião deste narrador isto não é ‘algo que simplesmente acontece’. Isso não pode ser ‘uma daquelas coincidências’. Por favor, não. E o que quero dizer é que não posso dizer que foi uma mera casualidade. Essas coisas estranhas acontecem sempre.” Assim fala o narrador de Magnólia.
Num cinema em que raramente se vê um único personagem ser psicologicamente aprofundado, Anderson ousa aprofundar todas as razões e desesperos de um incrível poliedro de personagens. Personagens dentro de personagens, pois todos ostentam cascas sociais que vão saltando como a pele das serpentes. Uma verdade: mesmo quando falamos a verdade estamos mentindo, iludindo a nós mesmos e aos demais. A vida é um ininterrupto encenar, pois há sempre plateia que espera nossa melhor atuação.
O humor dos personagens alterna como o clima, cujo boletim é apresentado como o início de capítulos, conforme avança o tempo do filme, que se passa durante um único dia.
As pequenas coincidências vão surgindo de maneira ordenadamente aleatória, como numa calma manhã ensolarada; afinal, a única verdadeira coincidência a unir seus destinos seria o fato de morarem em Los Angeles, num bairro cortado por uma rua de nome Magnólia. Ou talvez haja algo mais profundo: cada um carrega seu segredo, algo que lhe importa sobremaneira, embora talvez de fato nada diga a outrem. Contudo, aqui está a maior coincidência: é o segredo que cada um carrega que coincidentemente ou não influi na vida dos demais. Há fatos secretos que o são não porque seus proprietários os queiram assim, mas simplesmente porque passam despercebidos pelos demais. Cada pessoa na multidão é um segredo para mim, pois nada sei de sua vida.
A interesseira Linda é casada com o milionário produtor de TV Earl Partridge, que no primeiro casamento, com Lily, teve um filho, Frank Mackey, criador de um sistema de auto-ajuda ultra-machista chamado “seduza e destrua”, que aos catorze anos viu a mãe morrer de câncer abandonada pelo pai, e que será entrevistado pela jornalista Gwenovier. Entre os programas produzidos por Earl está o “O que as crianças sabem?”, do qual foi estrela nos anos sessenta o hoje fracassado Donnie Smith, e é estrela atualmente o garoto-prodígio-explorado-pelo-pai Stanley Spector; o programa é apresentado por Jimmy Gator, casado com Rose e pai da cocainômana Claudia, que se iniciou no vício ao ser seduzida por Ray, adepto do método seduza e destrua, e o vício a levará a conhecer o policial Jim. Earl está com câncer terminal, e encarrega seu enfermeiro, Phil Parma, de entrar em contato com seu filho.
Óbvio que a personagens humanos tais simplificações são inadequadas. Nada é assim tão simples, e se Linda lesse esse esquema diria: “Você devia ter vergonha.”
Quebrando a angústia dos terríveis segredos, há dois personagens-símbolo: o enfermeiro e o policial, que curiosamente aqui se apresentam como materialização do ideal de suas profissões: servir e proteger. E aqui o serviço vai além do material, além da superfície. Enquanto a jornalista Gwenovier quebra o segredo de Frank para fins meramente profissionais, Phil e Jim não estão interessados em confrontar ou fazer ninguém confrontar-se. Serão apenas ligações, tentativas de redenção dos demais personagens. Entre esses dois, Jim ergue-se como um contraponto de ordem num mundo caótico. Dirá, como único personagem-narrador do filme (embora haja falas de outros que sirvam à narração), em seus monólogos que parecem mantras para afastar o caos exterior: “A lei é a lei, e de jeito nenhum posso quebrá-la. Mas você deve perdoar o próximo, e isso é o mais difícil: o que devemos perdoar? Andar pelas ruas é uma coisa perigosa.”
Jim é tão simples que seu drama, o fato de perder a arma em serviço, parecerá banal em um primeiro momento, contraposto aos dramas dos demais. Aqui se estabelece o contraponto: o desespero que se apossa de nossos corações vem dos nossos sofrimentos ou da maneira pela qual os encaramos?
A teia de coincidências vai se condensando, e já não é apenas nas ligações pessoais, mas na própria estrutura narrativa que passam a se estabelecer. Stanley, em resposta a uma das perguntas do programa, canta um trecho da ópera Carmem, de Bizet, e tal trecho passa imediatamente a trilha sonora do encontro de Jim com Claudia. Earl começa a divagar, em seu leito de morte, sobre o direito que todos temos ao arrependimento e sobre o fato da vida alongar-se por seus sofrimentos (um pensamento bem schopenhauriano) e tais divagações tornam-se reflexões sobre os mais angustiosos momentos dos personagens. Tempestade que se abate sobre todos.
Um dos mais desesperadoramente belos momentos da história do cinema é o falso clímax que se apresenta quando todos os personagens cantam a canção Wise Up, de Aimee Mann, cujo refrão poderia traduzir-se toscamente: “Você espera, mas isso não vai parar. Nunca vai parar, a não ser que você se toque.” Com o cessar da canção cessa a chuva. Arma-se o momento da descoberta. Os grilhões sociais e os segredos se partem.
Mas eles não conseguirão a redenção sozinhos. Na história do cinema encontraremos sublimes momentos de associação da chuva à paz de espírito, como Cantando na Chuva e V de Vingança. Entretanto, em Magnólia a chuva é perigosamente bela, inusitadamente poética. Vidas absurdas se redimem pelo absurdo. Enquanto os personagens param nos sinais da Rua Magnólia, dos céus cai a mais aterradora das chuvas: uma chuva de sapos. Eis o momento de epifania, no qual todos são confrontados consigo mesmos, no qual se encontrarão tal qual são. É aqui que se decide que isso tem que parar; que cada um se toca. As ligações são já mais poderosas que a mera coincidência. Alguns encontrarão a paz, outros serão impedidos de morrer, forçados a encarar a vida e o arrependimento. Pessoas deslocadas descobrem de repente o seu lugar no mundo. Já não se movem como joguetes na mão do destino. Sim, há para cada um um propósito, um lugar no tempo e no espaço. Pode não ser um lugar belo e seguro. Mas é seu lugar. E nisso consiste a redenção.
Sobre o improvável de tal chuva e tais encontros, dirá Stanley: “Mas acontece. Isso é algo que acontece.”
E a guinada está completa: não apenas as vidas dos personagens foram alteradas pela chuva de sapos. Também nós temos nossa epifania. Nossa perspectiva é alterada. Agora a organizada teia de coincidências talvez não passe de uma mera sequência de acasos.

Amâncio Siqueira

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Balada para um Louco

Pintura: Bosch - A nau dos Loucos

Uma lembrança viva da minha adolescência é a lojinha de tia Estela. Tal lojinha ficava na minha rua e o "vendedor" era o Plameira. Grande divulgador de literatura e incentivador da leitura que é o Palmeira, o apertado espaço da loja, coisa de oito metros quadrados, tornou-se ponto de encontro da elite literária afogadense: os adolescentes Amâncio Siqueira, Márcio Jardson, Jahiel Nunes e Edgar Cruz. Vez por outra, Jean Carlos, Bruno Senhor e Nailton Barbosa davam as caras. Roubávamos livros uns dos outros, e uns roubavam os livros roubados dos outros e emprestavam para os antigos proprietários, que os devolviam aos ladrões originais. Acredito que todos os citados lembram-se do aparelho de som que Palmeira tinha no local. Um toca-fitas já bem surrado. As fitas que ele levava também já não estavam em bom estado. Mas as músicas que adivinhávamos ao ouvi-lo eram uma haste de algodão para ouvidos entupidos de forró estilizado, sertanejo country e axé. Havia de um tudo: Ravel, Wagner, Raul, Chico, Milton e muito mais. Entre as músicas, uma me chamou especial atenção: Balada para um louco (viva os loucos que inventaram o amor), na voz de Moacir Franco. É claro que eu não sabia o título naquele tempo. A fita não tinha, pelo que lembro, o intróito, começando diretamente no trecho "Louco, louco, louco...". Quando digo que adivinhava a música não estou brincando. Minha versão, ou seja, o que ouvia dos ruídos do som era o seguinte:
Louco, louco, louco, foi o que disseram quando disse que te amei,
Mas naveguei nas águas turvas dos teus olhos,
E confesso, fui Antibes, e invadi teu coração.
Trazemos aqui a versão completa em vídeo e apresentamos não apenas o título, como também a autoria, de Astor Piazzolla e Horácio Ferres. Como o Phallos não é um blogue de memórias, embora sejam as memórias que nos levem a escrever, o objetivo aqui não é apenas relembrar, mas despertar o interesse de novos leitores e ouvintes. Trata-se de um incrível poema à liberdade, à criatividade, à alegria. Um elogio à loucura que ilumina a vida. Sim, o amor é para os loucos, então que estes o cantem.
"Como um acrobata demente saltarei
dentro do abismo da tua mente, até sentir
que enlouqueci teu coração e, de tão livre, chorarei."
Amâncio Siqueira




quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sem palavras



A cena um do ato III da ópera As Valquírias, popularmente chamado A Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner, é o mais sublime, cruel e cruento retrato da morte que já ouvi. É incrível seu poder imagético, sua carga de tragédia e heroísmo. A poesia que brota de cada nota e eriça nossos pelos.

Nesta música incrível as Valquírias, mensageiras da morte, cavalgam em nossa direção e sentimos o que apenas tais mensageiras seriam capazes: somos arrebatados e nossas palavras são arrancadas de nós.

E são as palavras que compõem nossa alma. São elas que nos fazem vida.

Socó Pombo


domingo, 18 de outubro de 2009

Renato Russo - O amanhã não há


As estátuas, os cofres, as paredes pintadas; as pessoas que se jogam das janelas de seus apartamentos. Nada, nenhum dos frutos da alma humana é fácil de compreender. E o que se diria de alguém tão genial ao ponto de mesclar torturas e alegrias em uma só música?

um poeta modernista que não se prendeu às rimas e mesmo assim impôs aos seus poemas não só a própria beleza dos sentimentos destas almas humanas,mas também doces harmonias com instrumentos humanos ao lado de sua legião urbana de músicos e ritmos.

Como as possibilidades de uma relação entre pais e filhos, em que os mais diversos sentimentos sã desvendados, desde os pequenos momentos de alegria até a desespradoa tristeza, sus mícas vagam sobe um ponto e por ele atingem pontos diversos, a alma humana queé estudada por seus versos, sempre tendo o amor omo ponto de partida; ele compreendia o amor em todas as suas faces, criticano uma socieda na qual não mais se sabe dizer eu te amo e não passamos de uma rara espécie para se usar e jogar fora, todos nós herdeiros de uma virtude perdida.

Um músico que mudou a forma com que seus fãs vêem o mundo e morreu cedo demais. Uma pessoa que sabia viver o hoje como se não houvesse o amanhã. Pois na verdade não há.

Márcio Jardson

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Raul Seixas, um maluco total


Enquanto em meio a uma ditadura militar as pessoas se esforçavam para serem consideradas normais, padronizando-se com os mesmos gostos, pensamentos e opiniões impostos pelos militares, Raul fugia destes padrões e aprendia a ser louco, um maluco total.

Controlando sua maluquez, misturada com sua lucidez, Raul seguia o seu caminho em busca da expressão máxima de sua loucura (seria tal expressão máxima a Sociedade Alternativa); um caminho que escolhera e trilhava com perfeição, talvez por ser o caminho da loucura o mais fácil a ser seguido por um gênio em plena ditadura militar.

Mas não haveria outros caminhos que pudessem ser seguidos por um gênio como Raul?

Não sabemos. Sabemos apenas que aquele que cantava não era Raul Santos seixas, e sim (basta analisar o início do seu clássico Maluco Beleza para perceber) a própria loucura, a loucura que um dia falou pela caneta de Erasmo de Roterdã, a loucura mulher com sua doce voz feminina elogiando a si mesma pela beleza e esplendor de sua maluquez.

Márcio Jardson

Baixaria em alta


Do cruzamento de um Tigrão com uma porrada de Cachorras surgiu uma verdadeira salada de Frutas que deu origem ao domínio de uma anti-música machista, idiotizante e violenta, ótima para o enriquecimento lícito das grandes gravadoras e para aumentar a audiência das grandes emissoras, que estavam já se esquecendo de explorar da forma mais vil aqueles que confundem um phallos ereto com arroubo cultural e uma vagina molhada com acesso de inspiração (não que não seja inspirador, mas na intimidade de um ambiente saudável, com respeito às crianças e ao bem estar de todos).

Alguns já começam a me acusar de lixomaníaco. Posso dizer apenas que é justamente esta minha obrigação e o sentido do meu trabalho: resgatar os valores e a moral que foram atirados ao lixo e, ao mesmo tempo, lançar ao lixo esta anti-cultura massificada, este lixo cultural que ganha ares de luxo sob o aval das grandes gravadoras e das grandes emissoras de rádio, TV e internete.

Ais aqui uma simplificação das letras do novo Funk Globoalizado (se é que estas porcarias ridículas podem ser simplificadas):

1º O burro rincha: Eu vou comer você, espancá-la, usá-la como uma boneca inflável, gozar e jogá-la fora sem qualquer compromisso e respeito, e você não poderá dizer nada, a não ser que “um tapinha não dói.”

2º A cadela late: Eu vou ganhar dinheiro fácil vendendo o meu corpo pra algum Mané rico, e não importa se eu apanho ou se não tenho autonomia e inteligência, já que com minha bela bunda e minha xoxotinha vou viver bem o resto da minha vida.

Homens irracionais e mulheres sem autonomia, eis o público que consome este tipo de porcaria. Incitar crianças e adolescentes ao sexo sem amor ou responsabilidade, à aceitação dos valores de consumo impostos pelos conglomerados internacionais aos países em desenvolvimento (e proibidos para os jovens dos países desenvolvidos), seu objetivo. Mas a Globo só utilizará do seu falso moralismo depois que a Rainha dos Baixinhos (ou das Baixarias) e o cara do Domingão (de fato o domingo encomprida quando se assiste a esse programa) já tiverem aproveitado o máximo possível do público machista e aculturado que se volta para a televisão ávido por consumir essas baixarias em larga escala.

Ou até aparecer o próximo fenômeno sertanejo fabricado para vender e ser esquecido. Mas isso é uma outra história.

Socó Pombo