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quinta-feira, 18 de março de 2010

Louco Bêbado



Pra que usar de tanta educação

pra destilar terceiras intenções?

Desperdiçando o meu mel

devagarzinho, flor em flor.

Se você nunca ouviu falar em maldição,

nunca viu um milagre,

nunca chorou sozinha num banheiro sujo,

nem nunca quis ver a face de Deus.

Pois aquele garoto que ia mudar o mundo,

e ser artista de nosso convívio,

pelo inferno e céu de todo dia

pra poesia que a gente não vive

transformar o tédio em melodia.

Queria ser teu pão, tua comida,

e ter todo o amor que houver nessa vida

e mais algum remédio que dê alegria.

Esperando que o mundo inteiro acordasse

pra gente ir dormir

e outra vez esquecer,

pois nestas horas pega mal sofrer.

Sempre exagerado,

cansado de correr na direção contrária,

sem pódium de chegada ou beijo de namorada;

mais um cara

capaz de encontrar abrigo no peito de seu traidor.

Um veneno anti-monotonia.

Por quê?

Porque fazia parte do seu show;

faz parte do seu show...

… Cazuza.

Márcio Jardson


segunda-feira, 8 de março de 2010

Um Copo da Cólera de Raduan Nassar

A chegada do ser, a calma e o desejo que o leva à cama, o levantar e o banho que nos refresca com o prazer; levantar descansado após a fúria do êxtase. Café na nova manhã que se ergue no horizonte e nos faz pensar e ver.
O esporro de uma fúria que vem sem que se saiba de onde, sem que se saiba para onde, caminha e nos leva a ruas tortuosas, a pensamentos absurdos, filhos da desesperada vontade de fugir das presas de nossos inimigos e de vencê-los e de vê-los derrotados. Quando sua derrota é-nos mais gloriosa que nossa vitória. E a fúria que nos separa e nos afasta.
A calma que nos faz esquecer e nos faz voltar à chegada.


Márcio Jardson

segunda-feira, 1 de março de 2010

O Narciso e o Louco

Pintura: Salvador Dalí - Metamorfose de Narciso

Ajoelhado com suas mãos apoiadas no chão ou no próprio corpo, ele admira sua face nas cristalinas águas de um lago maravilhoso e divino como seu reflexo que exalta a criação e o criador, beleza que encanta seu possuidor e, como num sonho, entrega-se ao prazer da contemplação.
O sonho em tintas renascentistas cede suas cores e formas às mãos de Morfeu, senhor do abstrato, e transforma-se na sua verdadeira e louca face, absurda e caótica em busca de desvendamento ou eterna ocultação em obscuridade e mistério.
Salvador Dalí olha sua face à beira de um lago e vê-se Narciso e Dalí, transmuta o mundo com sua visão e tintas, mostra a beleza anárquica de suas ilusões ao mundo, mundo onde tudo pode acontecer e em que o ornitorrinco sente-se envergonhado e, cabisbaixo, dá-se por derrotado, pois nem ele é tão estranho e genial.
Dos ovos que nascem ornitorrincos, Dalí retira homens, plantas e ilusões, seu tempo derretendo-se ao escaldante sol faz-nos esperar o imprevisível e anormal em telas que, antes brancas, cederam aos toques da loucura: de Dalí, de Morfeu, de uma profecia de um existir irreal.

Márcio Jardson

domingo, 18 de outubro de 2009

Renato Russo - O amanhã não há


As estátuas, os cofres, as paredes pintadas; as pessoas que se jogam das janelas de seus apartamentos. Nada, nenhum dos frutos da alma humana é fácil de compreender. E o que se diria de alguém tão genial ao ponto de mesclar torturas e alegrias em uma só música?

um poeta modernista que não se prendeu às rimas e mesmo assim impôs aos seus poemas não só a própria beleza dos sentimentos destas almas humanas,mas também doces harmonias com instrumentos humanos ao lado de sua legião urbana de músicos e ritmos.

Como as possibilidades de uma relação entre pais e filhos, em que os mais diversos sentimentos sã desvendados, desde os pequenos momentos de alegria até a desespradoa tristeza, sus mícas vagam sobe um ponto e por ele atingem pontos diversos, a alma humana queé estudada por seus versos, sempre tendo o amor omo ponto de partida; ele compreendia o amor em todas as suas faces, criticano uma socieda na qual não mais se sabe dizer eu te amo e não passamos de uma rara espécie para se usar e jogar fora, todos nós herdeiros de uma virtude perdida.

Um músico que mudou a forma com que seus fãs vêem o mundo e morreu cedo demais. Uma pessoa que sabia viver o hoje como se não houvesse o amanhã. Pois na verdade não há.

Márcio Jardson

sábado, 17 de outubro de 2009

A parábola da águia


Não, não é um ovo, é o mundo que lá está e dele liberta-se uma águia que agora pode voar por novos céus e conhecer novos horizontes.

Sim, essa águia agora pode voar, pois toda a sua plumagem já está formada e suas asas estão prontas; elas sempre estiveram.

Mas havia o medo de cair, e a vertigem, o seu desejo de cair mesmo quando planava entre nuvens celestiais; é o solo que a chama para criar raízes. Ele lhe diz: “Cria raízes, torna-te árvore, e poderás crescer e, com teus braços, tocar os céus; então terás céus e terra a teu alcance.”

E há o sol que a cega e a queima, o frio das noites nas alturas e a solidão.

Mas há também os novos horizontes, as novas paisagens, cuja contemplação lhe dá prazer, um novo mundo que lhe abre as portas nas alturas de seu voo.

Mas o mundo a prendia, como um ovo que é preciso romper para nascer.

E era nascida sem romper a casca deste ovo, voando sem voar.

O mundo que lhe protege lhe priva dos céus.

Então, um dia, ela ouve, numa noite soa a seus ouvidos a dança dos corpos celestes e, em seu canto, escuta o chamado dos céus.

Então, ela rompe o mundo com suas asas e, abrindo-as lentamente, sentindo toda a força da liberdade, ela alça voo, plana nos céus e faz piruetas no ar.

E a terra a chama novamente, e ela mergulha em direção ao solo como um corpo em queda; então, antes de tocá-la, novamente sobe aos céus, em direção ao sol, em direção ao infinito.

É agora uma ave de rapina e precisa de uma presa.

Márcio Jardson

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Raul Seixas, um maluco total


Enquanto em meio a uma ditadura militar as pessoas se esforçavam para serem consideradas normais, padronizando-se com os mesmos gostos, pensamentos e opiniões impostos pelos militares, Raul fugia destes padrões e aprendia a ser louco, um maluco total.

Controlando sua maluquez, misturada com sua lucidez, Raul seguia o seu caminho em busca da expressão máxima de sua loucura (seria tal expressão máxima a Sociedade Alternativa); um caminho que escolhera e trilhava com perfeição, talvez por ser o caminho da loucura o mais fácil a ser seguido por um gênio em plena ditadura militar.

Mas não haveria outros caminhos que pudessem ser seguidos por um gênio como Raul?

Não sabemos. Sabemos apenas que aquele que cantava não era Raul Santos seixas, e sim (basta analisar o início do seu clássico Maluco Beleza para perceber) a própria loucura, a loucura que um dia falou pela caneta de Erasmo de Roterdã, a loucura mulher com sua doce voz feminina elogiando a si mesma pela beleza e esplendor de sua maluquez.

Márcio Jardson

sábado, 26 de setembro de 2009

Corte

Ilustração: Mike Deodato Júnior

A faca grita: corte
O pulso grita: corte-me
O homem grita: corto-o

Vem a razão e grita: calem-se.
Cai em prantos o homem sobre a faca e o pulso.
Márcio Jardson

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Relógio

Pintura: Salvador Dalí

Tic Tac,

Grita insistente o relógio;

Matando os homens,

Jogando-os para a velhice,

Enterrando-os no esquecimento.

Tac tic,

Escuta o atrasado,

Sem saber que em dois segundos

A travessia de uma avenida

Tornar-se-á fatal.

TAC...

O poeta desliga o relógio;

A ele não importa o tempo.

Só importa a inspiração

no momento em que se debate com Sofia.

Mata agora o tempo com a eternidade.

Márcio Jardson