segunda-feira, 1 de março de 2010

O Narciso e o Louco

Pintura: Salvador Dalí - Metamorfose de Narciso

Ajoelhado com suas mãos apoiadas no chão ou no próprio corpo, ele admira sua face nas cristalinas águas de um lago maravilhoso e divino como seu reflexo que exalta a criação e o criador, beleza que encanta seu possuidor e, como num sonho, entrega-se ao prazer da contemplação.
O sonho em tintas renascentistas cede suas cores e formas às mãos de Morfeu, senhor do abstrato, e transforma-se na sua verdadeira e louca face, absurda e caótica em busca de desvendamento ou eterna ocultação em obscuridade e mistério.
Salvador Dalí olha sua face à beira de um lago e vê-se Narciso e Dalí, transmuta o mundo com sua visão e tintas, mostra a beleza anárquica de suas ilusões ao mundo, mundo onde tudo pode acontecer e em que o ornitorrinco sente-se envergonhado e, cabisbaixo, dá-se por derrotado, pois nem ele é tão estranho e genial.
Dos ovos que nascem ornitorrincos, Dalí retira homens, plantas e ilusões, seu tempo derretendo-se ao escaldante sol faz-nos esperar o imprevisível e anormal em telas que, antes brancas, cederam aos toques da loucura: de Dalí, de Morfeu, de uma profecia de um existir irreal.

Márcio Jardson

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