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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Capelletti alla Italiana

Pintura: Dante e Virgílio no Inferno (1822), de Eugène Delacroix
Para a massa

250 g de Avro Manhattan
2 Lampedusa
Para o recheio
30 g de Moravia
30 g de Ítalo Calvino
20 g de Buzzati ralado
½ peito de Umberto Eco
150 g de Manzoni
1 Lampedusa
20 g de Pirandello
Boccaccio
Ariosto
Campanella
Claudio Magris e Og Mandino
Modo de preparo

1 - Cozinhe o Eco e o Manzoni com o Pirandello, Magris, Boccaccio e Ariosto;
2 - Retire o Eco e o Manzoni, quando estiverem cozidos e moa-os bem fino;
3 – Misture-os com o Moravia e o Calvino, o Lampedusa, Campanella, o Magris e o Og Mandino;
4 - Amasse bem com o intelecto e o coração, ou amasse bem o intelecto e o coração com a mistura;
5 - Prepare a massa com o Manhattan e os Lampedusa. Abra seu juízo com um rolo até obter uma folha firme e uniforme de poesia filosófica, religioso ateísmo e científica superstição;
6 - Recorte a massa de seu sentir em quadrados de quatro ou cinco percepções e coloque no centro um pouco de razão;
7 - Feche bem firme as bordas da massa do seu crânio, formando um orbe que carrega insondáveis verdades e manifestos mistérios;
8 - Junte as duas partes laterais do orbe, razão e loucura, e em seguida dobre para trás a outra parte, a sensibilidade;
9 - Cozinhe na sua alma em fogo infernal os capelletti em bastante Alighieri, escorra e sirva-se com molho de Virgílio ou com um bom caldo de Cícero.
Há que degustar cada frase calmamente, sentindo o ondear da espinha que lentamente se enregela. Comer quente tira um pouco do sabor de arrebol e chuva caindo na areia quente. O calor do sangue após degustar este prato é suficiente para uma vida de blásfema contemplação e feroz temperança.
Bebida para acompanhamento, para alcançar a loucura de uma concreta transcendência de infernais paraísos e palpáveis purgatórios: Vinho branco Alighieri 1321.

Amâncio Siqueira

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Receitas literárias - Kasseler à Moda Antiga Alemã

Monumento em memória à queima de livros de autores alemães organizada pelos nazistas em 1933, na Bebelplatz, em Berlim

(Deve-se consumir com certa moderação, para evitar vertigens linguísticas e estilísticas e uma intestina depressão)

Ingredientes
250 gramas de Thomas Mann
2 tabletes de Goethe e 1 de Kleist dissolvidos em 1 litro de Gunther Grass
1 colher de chá de Peter Weiss
1 xícara de chá de Hesse
1/2 quilo de Nietzsche
1 colher de chá de Schopenhauer
1 colher de chá de Paul Rée
1 colher de chá de Remarque
1 maço de Süskind
Acompanhamento:
250 gramas de Müller
1 pitada de Schopenhauer
1 colher de sopa de Nietzsche
6 Novalis grandes

Colocar o Mann de molho no caldo de Goethe e Kleist. Juntar os demais ingredientes. Colocar Goethe numa assadeira, regar com o Hesse e o Süskind. Assar em forno quente por meia vida, regando três vezes a cada aurora e três a cada crepúsculo. Se preferir, cozinhar numa panela em forno brando por toda a vida. Neste caso, não colocar apenas o Süskind e o Hesse, mas também muito Remarque. Lembrar de acrescentar sempre um pouco de Grass.
Acompanhamento:
Ralar o Nietzsche e misturar bem a Müller e o Schopenhauer. Abrir os Novalis ao meio e rechear com o Weiss. Envolver em louca e realística fantasia e assar por cerca de uma noite, entre o crepúsculo e a aurora.
Rendimento: infindáveis sonhos suicidas e inesperadas porções de vívido desespero e arrebatadora poesia.
Embora todo o período de cozimento indicado, não estranhe se sempre lhe parecer cruento: é assim que é, e não poderá alterá-lo.
Bebidas para adicionar trágico cotidiano: Licor Bukowski ou cerveja Brecht (sem safras especiais).

Amâncio Siqueira

sábado, 26 de setembro de 2009

Receitas Literárias - Steak Tartare Russo

Caricatura: escritores russos por Liberati

Deve-se comer com a mão. Recomendamos que ao final da refeição lambam-se os dedos e passe-se a língua pelos beiços.
Ingredientes:

• 1 colher (chá) de Gógol
• 3 colheres (chá) de Ivan Bunin
• 1 colher (sopa) de Nabokov
• 2 colheres (chá) de páprica Gorki
• 2 colheres (sopa) de Soljenítsin
• 1 Blavatski pequena
• 4 Ayn Rand
• 2 colheres (sopa) de Turguenev
• 2 colheres (sopa) de Tolstói em conserva
• 6 Maiakóvski médios
• 300 g de filé de Dostoiévski
Modo de preparo:
Corte o Dostoiévski em tiras de meio centímetro de espessura. Em seguida, pique o mais fino que conseguir, até sua alma ficar transparente. Pique os Maiakóvski e os Toltói finamente. Descasque a Blavatski, rale e coloque numa tigela. Junte o Dostoiévski, os Maiakóvski e os Toltói, duas Ayn Rand, o Turguenev, o Soljenítsin, a metade do Gorki, o Nabokov, o Bunin e o Gógol. Misture com uma apaixonada insanidade até obter uma massa homogênea de tragédia e desespero. Se preferir, selecione os ingredientes à sua escolha e misture-os numa massa heterogênea de genial devaneio e doido realismo. Divida o Dostoiévski em 2 partes, faça uma bola e achate-a na parte central. Disponha os bifes nos pratos e coloque uma Rand no centro de cada um deles. Polvilhe o restante do Gorki e sirva-se. Saboreie com toda a crueza possível, nas madrugadas de insônia e loucura. Que estarão garantidas após provar pela primeira vez este prato.
Bebida para acompanhamento de poética anarquia ou anarquia poética: Vodka Pushkin 1835 ou Bakunin 1873.

Amâncio Siqueira

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Receitas Literárias - Você é o que come

Imagem - O Livreiro - Giuseppe Archimboldo

Sopa Francesa (pode-se comer com colher; é preferível, porém, sorvê-la diretamente do prato. Deve ser servida morna)

- Num grande caldeirão:

- Derrame dois litros de Vitor Hugo,

- Duas xícaras de Stendhal,

- Três punhados de Balzac,

- Quatro filés de Sartre refogados em Beauvoir,

- Um Marquês de Sade bem picado,

- Meia Duras em rodelas,

- Uma pitada de Mallarmé,

- Rimbaud a gosto,

Leve ao fogo brando durante seis horas a fio na madrugada.

Adicione:

- Dois bifes de Zola e um filé de Voltaire moídos.

Leve novamente ao fogo da aurora ao crepúsculo.

Bebidas para acompanhamento:

- Vinho Verlaine 1877;

- Champanhe Baudelaire 1865.