domingo, 29 de maio de 2011

Gritos inaudíveis que ressoam no âmago


No seu Mundo como Vontade e Representação, Schopenhauer, ao discorrer sobre arte, toma como exemplo a escultura clássica Laocoonte, e discorre sobre as motivações do artista para esculpir sua figura central sem uma expressão de quem grita: “Nas artes plásticas, a representação do grito em si mesmo é completamente deslocada, completamente impossível; por conseguinte, a condição do grito – isto é, essa abertura violenta da boca que transtorna todos os traços e todo o resto da expressão – tornar-se-ia realmente incompreensível, visto que desta maneira e decididamente à custa de muitos sacrifícios apenas se representaria o meio, enquanto que o fim verdadeiro, o próprio grito e o seu efeito sobre a sensibilidade, permaneceria por exprimir.”

Teria Edvard Munch lido estas palavras? Teria encarado-as não como uma verdade, mas como um desafio para o artista? Teria passado os dias e as noites imaginando uma “abertura violenta da boca que transtorna todos os traços e todo o resto da expressão”? Não sei. Entretanto, tenho certeza de que Schopenhauer teria mudado de opinião se tivesse visto o quadro O Grito (Skrik), do pintor norueguês, desde que o filósofo alemão abrisse mão de seu classicismo.

Datado de 1893, a pintura símbolo do Expressionismo parece prever o século vindouro, o século da massificação. Massificação da tecnologia, das linhas de produção, do consumo e da guerra. Massificação da morte nas trincheiras, gulags e campos de concentração. Massificação do pensamento.

O pintor escreveu a respeito da experiência que o inspirou a pintar sua obra-prima, nascida O Desespero, na qual a figura central era um homem de cartola, sendo esta versão seguida por diversas outras, até a figura andrógena totalmente desfigurada da versão mais popular:

“Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza.”

A figura humana aparece “completamente deslocada”, a abertura de sua boca transtorna a própria natureza à sua volta, enquanto a doca de Oslofjord e os homens que passam permanecem indiferentes.

A impossibilidade da pintura de exprimir o grito é exatamente onde reside a força do quadro, sua poderosa carga dramática. O grito mais desesperado passará sem que ninguém esteja atento ao seu barulho. Haverá o barulho do trânsito, das telecomunicações, das máquinas, metralhadoras e bombas. O barulho ensurdecedor da propaganda a determinar como deve comportar-se o homem moderno. Diante disso, o homem que se entende indivíduo deslocado das massas gritará mais e mais, e mais e mais será ignorado.

Contudo, tal grito não cessará, pois é um grito da vontade, um terrível grito da natureza. Creio que Schopenhauer jamais teve acesso a uma obra que tivesse tanta relação com sua teoria estética, que exprimisse tão grandiosamente a marca do gênio, esse ser capaz de exprimir não um conceito, mas uma ideia. Uma ideia que pudesse resumir todo um século por vir, embora não pudesse jamais ser resumida apenas a esse século. Uma ideia que ecoaria ainda por milênios.

Era necessária uma forma de arte absolutamente silenciosa para que esse grito desesperado pudesse ser ouvido.

Socó Pombo

terça-feira, 17 de maio de 2011

São Pecador Lançado em Garanhuns

Na próxima quinta-feira (19), a partir das 20h, estará sendo lançado no Sesc Garanhuns, através do Laboratório de Autoria Literária Luzinette Laporte, o livro O Evangelho de São Pecador, de autoria do escritor Amâncio Siqueira.

O evento acontecerá no Salão de Eventos do Sesc, e contará com a participação do violonista Francis Ferreira.