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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Boas festas repletas de livros a todos

Não é à toa que diversos deuses escolheram nascer em vinte e cinco de dezembro. Mudança de estações, renovação do ciclo solar, a natureza se altera nessa época.
Não importa se as pessoas querem comemorar o nascimento de Shiva, Jesus, Dioniso, Hórus ou do Papai Noel, ou apenas reunir as pessoas amadas em volta do fogo familiar para rememorar os que se foram e reverenciar os que se vão, abraçados aos que conosco permanecem.
Boas festas e uma nova vida repleta de prazer e sabedoria.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vargas Llosa é sexto escritor latino-americano a ganhar o Nobel


Mario Vargas Llosa (nascido Jorge Mario Vargas Llosa; Arequipa, 28 de março de 1936), escritor, jornalista, ensaista e político peruano, foi laureado com o Nobel de Literatura de 2010.
Nascido em uma família de classe média, único filho de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Com isto o menino não conheceu o pai até os dez anos de idade.
Sua primeira infância foi em Cochabamba, na Bolívia, mas no período do governo José Luis Bustamante y Rivero, seu avô obtém um importante cargo político no governo, em Piura, no norte do Peru, e sua mãe retorna ao Peru, para viver naquela cidade.
Em 1946 muda-se para Lima e então conhece seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante sua adolescência, a família continuará vivendo ali.
Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, ali permanecendo por dois anos. Essa experiência será o tema do seu primeiro livro - La ciudad y los perros ("A cidade e os cachorros", em tradução livre), publicado no Brasil como "Batismo de Fogo" e, posteriormente, como A cidade e os cachorros. Nesta obra aborda a psicologia dos jovens incitados ao militarismo.
Em 1953 é admitido na tradicional Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, a mais antiga da América. Ali estudou Letras e Direito, contra a vontade de seu pai. Aos 19 anos, casa-se com Julia Urquidi, irmã da mulher de seu tio materno, e passa a ter vários empregos para sobreviver: atua como redator mas também fichando livros e até mesmo revisando nomes em túmulos nos cemitérios. Em 1958 recebe uma bolsa de estudos "Javier Prado" a vai para a Espanha, onde obtém doutorado em Filosofia e Letras, na Universidade Complutense de Madri. Após isso vai para a França, onde vive durante alguns anos.
Em 1964 divorcia-se de Júlia e em 1965 casa-se com a prima Patrícia Llosa, com quem tem três filhos, Álvaro, Gonzalo e Morgana.
Em 1987 inicia o movimento político liberal contra a estatização da economia, o que ia de encontro ao presidente Alan García.
Em 1990 concorre à presidência do país com a Frente Democrata (FREDEMO), partido de centro-direita, mas perde a eleição para Alberto Fujimori.

Sua obra critica a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje, segundo o escritor, no Peru e na América Latina. Seu principal tema é a luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru. A princípio, assim como vários outros intelectuais de sua geração, Vargas Llosa sofreu a influência do existencialismo de Jean Paul Sartre. Muitos dos seus escritos são autobiográficos, como "A cidade e os cachorros" (1963), "A Casa Verde" (1966) e "Tia Júlia e o Escrevinhador" (1977).
Por A cidade e os cachorros (também publicado no Brasil com o título Batismo de Fogo) recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix Barral e o Prêmio da Crítica de 1963. Sua obra seguinte, A Casa Verde mostra a influência de William Faulkner. O romance narra a vida das personagens em um bordel, cujo nome dá título ao livro.
Seu terceiro romance, Conversa na Catedral publicado em 4 volumes e que o próprio Vargas Llosa caracterizou como obra completa, narra fases da sociedade peruana sob a ditadura de Odria em 1950.
Há um encontro na Catedral entre dois personagens: o filho de um ministro e um motorista particular. O romance caracteriza-se por uma sofisticada técnica narrativa, alternando a conversa dos dois e cenas do passado. Em 1981 publica A Guerra do Fim do Mundo, sobre a Guerra de Canudos, que dedica ao escritor brasileiro Euclides da Cunha, autor de Os Sertões.
Em 7 de outubro de 2010 foi agraciado com o Prêmio Nobel da Literatura pela Academia Sueca de Ciências "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual". Em declaração à rádio colombiana RCN nesta quinta, o escritor peruano afirmou que se surpreendeu com a escolha e disse que o prêmio é "um reconhecimento" à literatura latino-americana e em língua espanhola. "Não pensava que estaria nem entre os candidatos", brincou o autor. "Por mim, vou seguir trabalhando com um sentimento de responsabilidade, como sempre fiz. Defendendo coisas que são fundamentais para o Peru, para a América Latina e o mundo. A liberdade e a democracia são o verdadeiro caminho do progresso, da verdadeira civilização, que acredito que seja o papel de um escritor defender", comentou Llosa à rádio.
Mario Vargas Llosa é apenas o sexto escritor latino-americano a receber um Nobel. Antes dele, foram premiados a escritora chilena Gabriela Mistral (1945), o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1967), o também chileno Pablo Neruda (1971), o colombiano Gabriel García Márquez (1982) e o mexicano Octavio Paz (1990).

segunda-feira, 1 de março de 2010

Pulsar


Pulsa, pulsa o Phallos no sensível toque.
A certeza do prazer anunciada no mesmo toque.

Pulsa mais forte numa ansiedade louca.
Silente e firme ele se eleva;
o orgasmo não é mais um sonho:
ele se intensifica espontaneamente.

Movimentos e sussurros se propagam além do sentir.
Os poros transbordam desejo.
O ritmo se altera freneticamente.

O instante mais sublime se aproxima.
Subitamente, o Phallos jorra o seu néctar
e, delirante, transborda de prazer...

… chega o vazio.
E o Phallos adormece como uma alma sonhadora
mergulhada em profundo sono
nos seios de uma aurora sutil e nua...


Alessandro Palmeira

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Luto: Morre J. D. Salinger


O autor que é uma das raras unanimidades entre os colaboradores do Phallos, J. D. Salinger morreu na casa onde vivia em Cornish, no estado de New Hampshire, Estados Unidos, informou nesta quinta-feira sua agência literária, a Harold Ober Associates. A causa da morte não foi revelada no aviso oficial. A família divulgou mais tarde que teriam sido "causas naturais". O autor havia se isolado no local em 1953, para fugir do assédio incitado pela fama conquistada pelo seu mais memorável trabalho: O apanhador no campo de centeio (1950).

Livros de memórias escritos recentemente por sua filha, Margaret, e por uma ex-amante, Joyce Maynard, afirmam que Salinger ainda escrevia, embora não desse nenhum sinal de pretender publicar uma só linha.

Em uma rara entrevista concedida em 1980 ao jornal Boston Sunday Globe, Salinger disse: "Eu amo escrever, e garanto a você que escrevo regularmente. Mas eu escrevo para mim mesmo, e quero ser deixado absolutamente sozinho para fazê-lo".

Jerome David Salinger nasceu em 1º de janeiro de 1919 em Manhattan, Nova York, filho de pai judeu de origem polonesa e mãe irlandesa, convertida ao judaísmo.

Começou a escrever histórias ainda adolescente. Em 1940, publicou sua primeira história, "The young ones", na revista Story.

Pouco depois, os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, e o jovem Salinger foi recrutado em 1942. Ele participou da invasão da Normandia no Dia D, e as experiências vividas na época da guerra o marcaram para sempre.

Depois da guerra, Salinger se casou com uma alemã, porém poucos meses depois o casal se separou.

Em 1948, publicou o conto "A perfect day for bananafish" na New Yorker, no qual apresentou ao mundo a família Glass e suas sete crianças: Seymour, Buddy, Boo Boo, Walt, Waker, Zooey e Franny, que apareceriam depois em várias histórias.

No entanto, foi com "O apanhador no campo de centeio", seu primeiro romance, publicado três anos depois, que J.D. Salinger selou sua reputação. O livro alcançou sucesso imediato, e até hoje é leitura obrigatória em muitas escolas - vende cerca de 250.000 cópias por ano.

As aventuras e desventuras de Holden Caufield, que na adolescência foge do colégio do qual havia sido expulso e passa alguns dias sozinho em Nova York, convivendo com professores homossexuais, prostitutas e cafetões, gastando todo o dinheiro antes de voltar para casa, fascinaram inúmeras gerações de jovens. O enredo pouco diz da essência deste excelente trabalho, que se trata de um romance intimista, no qual se dá vazão às memórias e opiniões de Caufield.

Na época, o livro foi criticado pelo uso liberal de palavrões e pelas referências abertas à sexualidade. Em alguns países, chegou a ser proibido.

Outras coletâneas de contos e romances bem-sucedidos se seguiram ao "Apanhador no campo de centeio", como "Franny e Zooey", até 1965, quando "Hapworth 16: 1924" foi publicado na revista New Yorker.

"Há uma paz maravilhosa quando não se publica. É pacífico", afirmou Salinger em 1974, quando quebrou mais de 20 anos de silência em uma entrevista dada por telefone ao jornal The New York Times.

"Publicar é uma terrível invasão da minha privacidade. Eu gosto de escrever. Eu amo escrever. Mas eu escrevo apenas para mim e para meu próprio prazer", decretou.

Em 1955, casou-se novamente, desta vez com Claire Douglas, na época uma jovem estudante, com quem teve dois filhos, Margaret e Matt. Em seu livro de memórias "The dream catcher (O apanhador de sonhos)", a filha descreve o pai como um homem autoritário que mantinha sua mãe "praticamente como uma prisioneira".

O casal se divorciou em 1967, e em 1972 Salinger iniciou seu longo relacionamento com Joyce Maynard, então com 18 anos, que conheceu trocando cartas.

Em 1999, algumas das cartas escritas pelo romancista a Maynard foram leiloadas por mais de 150.000 dólares.

Salinger permaneceu na casa de Cornish até o último dia de sua vida. Desde os anos 80, era casado com Collen O'Neill. Ele defendia sua privacidade com unhas e dentes, mesmo quando aparecia nos tribunais para processar a eventual publicação de alguma de suas cartas.

Ele recusou todas as ofertas feitas para adaptar "O apanhador no campo de centeio" para o cinema, ou mesmo para escrever uma continuação para a história.

"Não há mais nada sobre Holden Caulfield. Leia o livro novamente. Está tudo lá. Holden Caulfield é apenas um momento congelado no tempo", disse Salinger certa vez ao Boston Globe.

Apesar da falta de publicações, Salinger teria confessado em 1978 a Jerry Burt, seu vizinho e amigo, que escrevia com regularidade e teria pelos menos 15 obras completas guardadas em um cofre.

Burt revelou em 1999 que chegou a ver o cofre aberto na casa do autor, mas não saberia confirmar se a confissão de Salinger era verdadeira, pois a escuridão encobria seu provável conteúdo.

O apanhador no campo de centeio e sua influência

O culto ao "O Apanhador no Campo de Centeio" ganhou as páginas policiais em 1980, quando o fã dos Beatles Mark David Chapman matou a tiros o músico John Lennon, citando em seguida a obra como inspiração para o ato e afirmando que "esse livro extraordinário contém muitas respostas".

Depois dele, foi a vez de John Hinckley Jr, o homem que atirou em 30 de março de 1981 no então presidente norte-americano Ronald Reagan, apontar a obra como fonte de inspiração.

Apesar do sucesso, entre 1961 e 1982 "O Apanhador no Campo de Centeio" foi o livro mais censurado nas escolas e livrarias dos Estados Unidos. As explicações incluem linguagem vulgar, referências sexuais, blasfêmia, questionamento aos valores familiares e condutas morais, encorajamento de rebeldia e promoção de bebidas alcoólicas, cigarros, mentiras e promiscuidade.

No cinema, o filme Teoria da conspiração traz em seu personagem principal, o taxista Jerry Fletcher, um homem solitário como o próprio Salingir, embora aparentemente mais paranóico, que tem verdadeira compulsão pelo livro.

Resta-nos aguardar a família do autor decidir publicar seus inéditos, para que possamos usufruir de sua literatura ágil e limpa.

Socó Pombo

sábado, 5 de dezembro de 2009

Bartleby e a escrita


No livro Bartleby e Companhia o escritor Enrique Vila-Matas utiliza o personagem criado por Herman Melville para nomear um estado de espírito próprio de alguns escritores: o fato de abandonarem a escrita. Assim como o personagem, o escritor passa a dizer para si mesmo, diante do papel: Prefiro não fazer.

A despeito de apreciar falar de escritores clássicos e fazer a minha crítica de obras consagradas, não é sobre o livro em si, ou sobre o livro que inspirou a nomenclatura de Síndrome de Bartleby; nem mesmo sobre os escritores famosos que sofreram desta síndrome que desejo falar. Desejo aqui fazer um estudo de caso com os próprio colaboradores do Phallos, em especial dos criadores desta ideia.

Remontemos, primeiramente, a um período de uma década atrás, quando os criadores do Phallos decidiram enveredar pelo caminho da literatura. Alessandro Palmeira, com seu Amor, Abstrata Loucura, foi o primeiro a publicar, seguido no mesmo ano 2000 por mim e Jean Wagner, que publicamos o livro Lixismo – Uma busca pelo esquecido, embora o Movimento Lixista tenha sido engendrado por Amâncio Siqueira e Márcio Jardson, que participaram do livro com alguns textos. Siqueira prefaciou ainda o livro de poemas Vidas em Versos, da poeta Vanda, e publicou poemas e contos em jornais e antologias, além de prometer já ter o esqueleto de uns seis romances. Nesta mesma época Edgar Cruz escrevia alguns textos, tendo prefaciado o livro de Palmeira, embora não nos mostrasse nenhum livro em perspectiva.

Estávamos todos entre os dezessete e os vinte anos, e no horizonte havia um futuro brilhante, pois sob nossos pés havia os alicerces de uma grande escola literária, de homens (pois no fim da adolescência já assim nos considerávamos) que influenciariam o mundo. Na minha opinião Jardson e Cruz poderiam merecer o Nobel, se continuassem a escrever como escreviam. Tamanha efervescência criativa germinou de tal maneira, que alguns meses depois criamos o periódico Phallos. Palmeira apresentou a ideia de um jornalzinho estilo suplemento cultural, só que prenhe de criatividade e irreverência. Sugeriu o título Phallos, e Amâncio e Márcio não titubearam: a homenagem a Jung, ou Basílides, era mais do que devida, pois fora uma de suas inflências.

Estes caras nunca nos perguntaram se concordávamos com algo, e nós sempre concordamos. Não apenas concordamos, como mergulhamos felizes na empreitada. Jardson, que era o único que tinha trabalho e acesso a computador, editava o periódico de oito páginas. Siqueira era responsável pela digitação e correção, que fazia no local de trabalho de Jardson, a Secretaria da Fazenda. Palmeira era o editor-chefe e conseguia “patrocínios”, ou seja, cópias gratuitas. Sim, o Phallos começou como um periódico impresso em preto e branco, formato ofício dobrado, fotocopiado e distribuído gratuitamente na faculdade de Afogados da Ingazeira. Entre seus colaboradores, além dos citados, Bruno Senhor e Josué Manfredine.

Sim, e até agora o texto pouco tem de comum com o título. Aqui vem a reviravolta, pois é onde se encaixa a síndrome de Bartleby.

Todo o arroubo criativo, o afã de escrever, a multiplicidade dos assuntos, durou apenas quatro meses.

E não foram quatro meses de publicações semanais ou diárias: o Phallos era mensal. Quatro edições de oito páginas cada foram tudo o que conseguiram aqueles inspirados escritores na mais calorosa juventude. E o Phallos caiu. Emurcheceu-se. Perdeu o tesão.

Foi um hiato de quase dez anos entre sua última ereção impressa e sua primeira ereção virtual. E, incrivelmente, a síndrome de Bartleby ainda ataca nossos colaboradores. Mesmo o Palmeira, que publicou dois livros desde aquela época, sente o peso de tal síndrome. Criou um blogue pessoal, porém deixou o mesmo falecer há um ano, e o seu Prece ao Pecado deixa entrever a fadiga do processo criativo: o romance de espetacular premissa torna-se quase um conto de escrita fragmentária. Siqueira finalizou um dos seus romances em 2005 e novamente perdeu o gosto pela escrita. Os demais sequer produziram algum material nesta década. Seus textos publicados aqui são os mesmos que circularam no Phallos impresso, material esgotado e sem renovação.

Há muitas causas para que o escritor desenvolva o desejo de não escrever, ou perca o desejo de escrever. Desde o esgotamento das palavras, que já não representam tudo que vai em seu íntimo, até a ausência do reconhecimento que acredita merecer, passando pela constatação de que nada do que diga é de fato novo, a extrema humildade de acreditar que não escreve lá grande coisa, a falta de inspiração (há escritores que acreditam na inspiração) e a preguiça. Há ainda causas externas, como uma vida normal. Sim, a normalidade é terrível para o escritor. A necessidade de conseguir um emprego para sustentar-se, a felicidade de um princípio de namoro, a atuação num partido político, a atenção a esposa e filhos, tudo, enfim, que diz respeito à família é um risco para a carreira do escritor. Concordo com Siqueira, quando diz que “a família é a nulidade básica da sociedade”.

Eu mesmo pouco tenho escrito, e quando sai algo é apenas uma crítica a livros ou filmes que gostei. Tem faltado algo de pessoal em mim, algo do arrebatamento que já tive.

Tudo parecia novo: uma nova instigação, um recomeço, uma primavera criativa depois do longo outono se apresentou quando Siqueira, decidido a não voltar a ser normal, a buscar finalizar sua obra e publicá-la, procurou-nos por emeio com a ideia de relançar o Phallos na forma de blogue. Dizia no corpo da mensagem: Voltaremos a escrever, ou nosso Phallos permanecerá deitado eternamente em berço esplêndido?

Todos nos empolgamos, como retornasse o tesão literário da juventude. Todavia, passados novamente quatro meses, nossos colaboradores caem no ostracismo, e mínguam os textos.

E não são apenas os antigos colaboradores que penam para escrever: o novo colaborador Tiago Caldas produziu um único texto e já não envia nada. Para a nossa seção feminina foi convidade a poeta Izabel Goveia, que ainda não enviou seu texto de estreia.

Não faço aqui um apelo aos nossos colaboradores, mas ao leitor: peço-te que compreendas que o processo criativo é difícil. Cada texto dói como um parto, e nem sempre a criança é isenta de maus congênitos.

Haveremos de produzir mais, mas por enquanto esperamos que seja agradável a leitura dos poucos textos que temos disponibilizado.

E aguardamos um tratamento eficaz contra a síndrome de Bartleby.

Socó Pombo


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Presenteie com um livro - uma campanha do Phallos


Quando quiser presentear alguém, presenteie com um livro. Ajude a difundir o conhecimento.

Luto

Foto do antropólogo em suas expedições pelo Brasil
"Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele"
Claude Lévi-Strauss
O antropólogo, filósofo, crítico e acadêmico Claude Lévi-Strauss morreu, aos 100 anos, na madrugada do último domingo (1/11). O anúncio foi feito apenas nesta terça-feira (3/11) pela Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris (França).
O pensador iniciou faculdade de direito na Sorbonne, porém não concluiu o curso, voltando-se para Filosofia.
Conhecido como o fundador da antropologia estruturalista (foi o primeiro estudioso a aplicar princípios científicos rígidos das ciências exatas como fisico-química e biologia nos estudos antropológicos e sociológicos, influenciando outras áreas, como a Linguística e a Psicologia), Lévi-Strauss participou, na década de 1930, da missão francesa que organizou alguns dos cursos da Universidade de São Paulo (USP) pouco após sua fundação, em 1934.
Por esta época viajou pelo centro-oeste do Brasil, nas matas do cerrado e do pantanal, estudando as línguas e costumes dos povos indígenas, em especial entre os índios Bororo e Nhambiquara, em companhia de sua esposa. Tais estudos deram origem à sua vocação antropológica e ao livro Tristes Trópicos, sua mais famosa obra. São destacáveis seus interesses na influência dos mitos e das relações familiares como motores na formação das sociedades, além do estudo dos mecanismos da cognoscência humana.
Em 1973, foi eleito para a Academia Francesa.
Caetano Veloso cantou a relação do antropólogo belga radicado na França com o Brasil na música O Estrangeiro:
“O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara
Pareceu-lhe uma boca banguela” (não encontramos ainda vídeos desta música).
Mário de Andrade recebeu importante colaboração de Lévi-Strauss na sua pesquisa das produções populares brasileiras.
Os gênios não morrem: permanecem perenes em sua obra.
Um século de vida é coisa rara. Um século de produtividade, inteligência e lucidez é para gigantes.

Socó Pombo

Análise do resultado da primeira enquete

Leitor do Phallos depois de responder à enquete

Há um mês abrimos a seguinte enquete:
O Phallos quer conhecer o seu nível de descaso com a literatura. Quantos livros você lê por mês?
Menos de um
Um
Dois
Três ou mais
Não foi um sucesso de público, sendo todavia de crítica, a julgar pelo resultado:
Foram oito votantes, dos quais 3 (37%) votaram na opção um, 1 (12%) na opção dois e nas opções três e quatro votaram igualmente 2 (25%). O cálculo não será exato, pois não poderemos aferir quantos livros lêm os que votaram nas opções um e três, mas podemos estimar uma média, que seria de aproximadamente dezoito livros por ano. Os leitores do Phallos (ao menos os que votaram na enquete) estão com uma média muito acima da média nacional, de aproximadamente três livros por ano, e similar à dos países nórdicos (os que têm o melhor IDH e a melhor educação do mundo), de quinze.
Parabéns, leitores phállicos. E já temos uma nova enquete. Contribua opinando no fim da página qual o melhor título para a seção feminina do nosso blogue.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Resultados do mercado editorial até o ano de 2007 preocupam: brasileiro lê 0,9 livro não didático por ano

Os dados são alarmantes: o Brasil consome uma média per capita de 2,4 livros por ano, e o maior consumidor é o governo, na compra de livros didáticos para as escolas. O mercado editorial simplesmente retornou em número de obras publicadas ao patamar de 2000. Ou seja, o povo está pouco interessado no livro, o que reflete negativamente em todos os âmbitos da vida social.
O Phallos, ciente da dificuldade de auto-conscientização da população, lança a campanha Presenteie com um Livro. Sabemos que as pessoas não têm a disposição de tirar 10% dos seus gastos com bebida (e outras drogas), festas e música ruim para investir em cultura, então contribuamos para a difusão do saber. Quando for presentear alguém, presenteie com um livro. É um dinheiro que você gastaria de qualquer forma, então que seja bem investido.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Indicações de leitura do Phallos - Parte III

Anexo da Biblioteca do Senado, Paris - França
Em 1966 a “Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé” cessou as publicações do Index, contudo anunciou que o mesmo continuaria servindo como um “guia moral para lembrar aos fiéis que eles devem ter cuidado com escritos que podem ser perigosos para a fé e a moral.” Atualmente a igreja, para declarar que um livro é perigoso para a fé, lança um admonitum (advertência). Segundo eles, apenas um guia moral, já sem o poder de lei eclesiástica que outrora teve o Index. Devemos lembrar que a origem do termo Lista Negra parte do Index Librorum Prohibitorum.
Todavia, há setores dentro da igreja que possuem uma lei de censura ainda mais rígida.
A Opus Dei controla toda a informação a que seus membros têm acesso. Os membros necessitam permissão dos seus diretores para ler um livro, mesmo que este seja necessário para formações escolares. Os diretores averiguam se o livro será adequado ou não mediante uma lista que poucos têm acesso. Esta lista é baseada na usada pela Igreja Católica até 1948. A Opus Dei continuou a utilizá-la e a atualizá-la periodicamente.Esta Base de Dados é chamada de Guia Bibliográfico. Infere-se que estão indexados mais de 60 mil livros, classificados do nível um ao seis, sendo o um leitura para toda a família e o seis proibido mesmo para o mais fervoroso fiel. Existem 6892 livros com a classificação de seis, entre os quais livros dos seguintes autores (não recomendados anteriormente): Woody Allen, Isabel Allende, Karen Armstrong, Margaret Atwood, Judy Blume, Roberto Bolano, Joseph Campbell, Allen Ginsberg, Mary Gordon, Gunter Grass, Andrew Greeley, Herman Hesse, Adolph Hitler, John Irving, James Joyce, Carl Jung, Eugene Kennedy, Jack Kerouac, Stephen King, Milan Kundera, Hans Kung, Harold Kushner, Henri Lefebvre, Doris Lessing, Sinclair Lewis, Richard P. MacBrien, Mary MacCarthy, Malinowski, Somerset Maugham, Toni Morrison, Alice Munroe, Vladimir Nabokov, V.S. Naipaul, Pablo Neruda, Octavio Paz, Harold Pinter, Marcel Proust, Philip Roth, Bertrand Russell, John Updike, Gore Vidal, Alice Walker, Gary Wills, Patrick Süskind, J. D. Salinger, Alessandro Palmeira, José Saramago, Márcio Jardson, Nikos Kazantzakis, Amâncio Siqueira e Tennessee Williams.
Leitura de qualidade para toda uma vida.
Post Scriptum: Alguns leitores podem queixar-se pelo fato de darmos preferência para as indicações da igreja católica em relação às demais. Tomei por referência o índex católico por desconhecer indexes de outras religiões, que costumam ser mais práticas: proíbem todos os livros, com exceção dos trechos que selecionam da Bíblia e livros vendidos na própria igreja.

Socó Pombo

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Renovação



Em menos de dois meses pagãos comemorarão o nascimento do Sol Invicto ou da Deusa; cristãos, o nascimento de Jesus Cristo; membros de outros credos, a renovação do ciclo solar; ateus, férias e feriados. Todos comemoram no período natalino o fim de um ciclo e início de outro. É a renovação da vida, uma nova aliança com o novo. O descanso de anteriores batalhas para lançar-se, de mente descansada e coração encorajado, na guerra incessante que é esta vida.
O Phallos passará por um tempo de atualizações apenas semanais, devido à momentânea dificuldade de acesso dos seus editores à internete, e aproveita estes próximos dias para indicar uma árvore que representa uma renovação para todo o ano. Dependendo dos galhos escolhidos, uma renovação de toda uma vida.
Boas festas e feliz vida nova.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Indicações de leitura do Phallos - parte II

Foto: Bela livraria Lello do Porto - Portugal
As phállicas indicações de leitura, tendo por base o índex librorum prohibitorum, seguem com autores não ficcionais, em sua maioria filósofos:
Thomas Hobbes 1649-1703 Todas as obras
René Descartes 1663 Todos os trabalhos filosóficos
Francis Bacon 1668 Obras científicas (indicamos muito mais de Bacon. A Nova Atlântida é uma Utopia talvez mais cientificamente notável que a utopia de Morus)
Michel de Montaigne 1676 Ensaios
Baruch Spinoza 1690 Todos os trabalhos póstumos (indicamos também o Tratado teológico-político, publicado anônimo)
John Milton 1694 Papéis do Estado (não podemos deixar de acrescentar sua obra-prima Paraíso Perdido)
Joseph Addison 1729 Remarks on seven parts of Italy (não conhecemos este autor e não encontramos textos em português)
Richard Steel sem data Account of the State of The Roman Catholic Religion (não conhecemos este autor e não encontramos textos em português)
John Locke 1734-1737 Ensaio sobre o entendimento humano
Emanuel Swedenborg 1738 De Principia
Daniel Defoe 1743 História do Diabo (não encontramos traduções em português)
David Hume 1761-1872 Todas as obras
Jean-Jacques Rousseau 1762-1806 O contrato social (indicamos também o tratado sobre a origem da desigualdade entre os homens)
Edward Gibbon 1783 Declínio e queda do Império Romano
Blaise Pascal 1789 Cartas Provinciais (indicamos também Pensamentos e Ensaios)
Oliver Goldsmith 1823 Uma breve história da Inglaterra
Immanuel Kant 1827 Crítica da Razão Pura (não poderíamos deixar de indicar a crítica da razão prática)
Giovanni Casanova 1834 Memórias (não se trata de escrito filosófico, mas não deixará de ser instrutivo)
John Stuart Mill 1856 Princípios de Política
Ernest Renan 1889-1892 Vida de Jesus
Emile Zola 1894-1898 Todas as obras
Andrew Lang 1896 Mito, Rito e Religião
Kalr Marx sem data Todas as obras (indicamos também Friedrich Engels)
Arthur Schopenhauer sem data Todas as obras
Friedrich Nietzsche Todas as obras
Henri Bergson 1914 Evolução Criativa
Charles Darwin sem data A Origem das espécies (indicamos suas outras obras sobre a viagem a Galápagos e estudos comparados)
Thomas Huxley sem data Todos os trabalhos científicos (incluímos aqui seu neto, Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo e Sem olhos em Gaza)
Benedetto Croce 1934 Filosofia e História
Jean-Paul Sartre 1948 Todas as obras

Esta lista de indicações é apenas um norte para o leitor iniciante enveredar pelo universo do conhecimento e do prazer da leitura. É evidente que ao longo do tempo realizaremos resenhas das obras indicadas. Na próxima e última parte, um apanhado do Opus Dei.
Socó Pombo

sábado, 24 de outubro de 2009

Vote na nossa enquete

Barraca da equipe phállica

No fim da página, antes do Dom Quixote, você encontrará a nossa enquete. Faltam apenas dez dias para votar e ajudar-nos a montar um perfil dos leitores do nosso blogue.
Aproveitamos para comemorar com você, fiel leitor, termos chegado à marca dos cinquenta visitantes. É tamanho o sucesso deste blogue que temos sido convidados para vários eventos, como o carnaval de Salvador e inúmeros bailes funk. Você pode verificar acima que sempre vamos para tais locais, além das festas regionais que já frequentávamos antes da fama, com nossa barraca já montada.
Não se pode desperdiçar estas oportunidades de diversão.

domingo, 18 de outubro de 2009

Mais um trecho do romance Caim, de Saramago


Sucedeu então algo até hoje inexplicado. O fumo da carne oferecida por abel subiu a direito até desaparecer no espaço infinito, sinal de que o senhor aceitava o sacrifício e nele se comprazia, mas o fumo dos vegetais de caim, cultivados com um amor pelo menos igual, não foi longe, dispersou-se logo ali, a pouca altura do solo, o que significava que o senhor o rejeitava sem qualquer contemplação. Inquieto, perplexo, caim propôs a abel que trocassem de lugar, podia ser que houvesse ali uma corrente de ar que fosse a causa do distúrbio, e assim fizeram, mas o resultado foi o mesmo. Estava claro, o senhor desdenhava caim. Foi então que o verdadeiro carácter de abel veio ao de cima. Em lugar de se compadecer do desgosto do irmão e consolá-lo, escarneceu dele, e, como se isto ainda fosse pouco, desatou a enaltecer a sua própria pessoa, proclamando-se, perante o atónito e desconcertado caim, como um favorito do senhor, como um eleito de deus. (...) A cena repetiu-se, invariável, durante uma semana, sempre um fumo que subia, sempre um fumo que podia tocar-se com a mal e logo se desfazia no ar. E sempre a falta de piedade de abel, os dichotes de abel, o desprezo de abel. Um dia caim pediu ao irmão que o acompanhasse a um vale próximo onde era voz corrente que se acoitava uma raposa e ali, com as suas próprias mãos, o matou a golpes de uma queixada de jumento que havia escondido antes num silvado, portanto com aleivosa premeditação. Foi nesse exacto momento, isto é, atrasada em relação aos acontecimentos, que a voz do senhor soou, e não só soou ela como apareceu ele. (...) Que fizeste com o teu irmão, perguntou, e caim respondeu com outra pergunta, Era eu o guarda-costas de meu irmão, Mataste-o, Assim é, mas o primeiro culpado és tu, eu daria a vida pela vida dele se tu não tivesses destruído a minha, Quis pôr-te à prova, E tu quem és para pores à prova o que tu mesmo criaste, Sou o dono soberano de todas as coisas, E de todos os seres, dirás, mas não de mim nem da minha liberdade, Liberdade para matar, Como tu foste livre para deixar que eu matasse a abel quando estava na tua mão evitá-lo, bastaria que por um momento abandonasses a soberba da infalibilidade que partilhas com todos os outros deuses, bastaria que por um momento fosses realmente misericordioso, que aceitasses a minha oferenda com humildade, só porque não deverias atrever-te a recusá-la, os deuses, e tu como todos os outros, têm deveres para com aqueles a quem dizem ter criado, Esse discurso é sedicioso, É possível que o seja, mas garanto-te que, se eu fosse deus, todos os dias diria Abençoados sejam os que escolheram a sedição porque deles será o reino da terra, Sacrilégio, Será, mas em todo o caso nunca maior que o teu, que permitiste que abel morresse, Tu é que o mataste, Sim, é verdade, eu fui o braço executor, mas a sentença foi dada por ti, O sangue que aí está não o fiz verter eu, caim podia ter escolhido entre o mal e o bem, se escolheu o mal pagará por isso, Tão ladrão é o que vai à vinha como aquele que fica a vigiar o guarda, disse caim, E esse sangue reclama vingança, insistiu deus, Se é assim, vingar-te-ás ao mesmo tempo de uma morte real e de outra que não chegou a haver, Explica-te, Não gostarás do que vais ouvir, Que isso não te importe, fala, É simples, matei abel porque não podia matar-te a ti, pela intenção estás morto, Compreendo o que queres dizer, mas a morte está vedada aos deuses, Sim, embora devessem carregar com todos os crimes cometidos em seu nome ou por sua causa.
(...)
Este nosso relato, embora não tendo nada de histórico, demonstra a que ponto estavam equivocados ou eram mal-intencionados os ditos historiadores, caim existiu mesmo, fez um filho à mulher de noah, e agora tem um problema para resolver, como informar lilith de que é seu desejo partir. Confiava que a condenação ditada pelo senhor, Andarás errante e perdido pelo mundo, pudesse convencê-la a aceitar a sua decisão de ir-se. Afinal, foi menos difícil do que esperava, talvez também porque essa criança, formada por não mais que um punhado de células titubeantes, exprimisse já um querer e uma vontade, o primeiro efeito dos quais tivesse sido a reduzir a louca paixão dos pais a um vulgar episódio de cama a que, como já sabemos, a história oficial nem sequer irá dedicar uma linha. Caim pediu a lilith um jumento e ela deu ordens para que lhe fosse entregue o melhor, o mais dócil, o mais robusto que houvesse nas estrebarias do palácio. E nisto se estava quando correu pela cidade a notícia de que o escravo traidor e seus comparsas haviam sido descobertos e presos. Felizmente para as pessoas sensíveis, dessas que sempre apartam os olhos dos espetáculos incômodos, sejam eles de que natureza forem, não houve interrogatórios nem torturas, o que talvez se tivesse devido à gravidez de lilith, pois, segundo a opinião de abalizadas autoridades locais, poderiam ser de mau agouro para o futuro da criança em gestação, não só o sangue que inevitavelmente se derramaria, mas também os desabalados gritos dos torturados. Disseram essas autoridades, que os bebês, dentro das barrigas das mães, ouvem tudo quanto se passa cá fora. O resultado foi uma sóbria execução por enforcamento perante toda a população da cidade, como um aviso, Atenção, isto é o mínimo que vos pode suceder a todos.

José Saramago

O Profeta do Sertão


Quando publicou em 2006 Prece ao Pecado, romance que retrata o envolvimento sexual de um padre com uma "fiel", e em entrevista criticou o celibato dizendo que o mesmo seria uma forma dos "padres celebrarem missas com o phallos ereto", o colaborador deste blogue Alessandro Palmeira foi tratado por alguns setores da igreja como Alessatã Palmeira (popularmente conhecido por Satanzinho). Na noite de dezessete de outubro de 2009, a redenção. Palmeira lançou o livro biográfico Dom Francisco - O Profea do Sertão, e já está sendo tratado pelos mesmos setores da referida igreja como Alessanto Palmeira (Santinho).
Tal exemplo mostra que a salvação é para todos. Ou para ninguém.

Socó Pombo

sábado, 17 de outubro de 2009

Herta Müller recebe o Nobel de literatura e o prêmio Franz Werfel 2009

Capa do romance Atemschaukel, que valeu à autora Franz Werfel

Herta Müller nasceu em 1953 na Romênia, numa família da minoria alemã refugiada da última guerra naquele país, e vive desde 1987 em Berlim.
A sua obra trata da vida na Romênia sob a ditadura de Ceaucescu, abordando ainda a questão das minorias alemãs em países da Europa Central, no pós-guerra. Herta Müller, ao ter conhecimento do prémio que lhe fora atribuído afirmou :"Quem ganhou não fui eu, foram os livros."
A Academia sueca sublinha que Herta Müller consegue, "com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, retratar o universo dos desapossados". Herta estudou alemão e literatura romena na sua terra natal e trabalhou depois como tradutora numa fábrica de Timisoara, antes de ser demitida das suas funções em 1979 por se ter recusado a colaborar com a polícia política de Nicolae Ceaucescu. Acabou por abandonar o seu país em 1987 para ir para a Alemanha com o marido, o também escritor Richard Wagner. Para trás deixou uma longa luta perdida pela publicação dos seus trabalhos frontalmente críticos ao regime totalitário de Ceausescu, que acabaria por ser derrubado dois anos depois de ter saído da Romênia.
Em 1984 foi distinguida com o Prêmio Aspekte e onze anos depois recebeu o prêmio europeu de literatura Aristeion e foi eleita para a Academia Alemã para Língua e Poesia. Em 1998, recebeu o prêmio irlandês IMPAC, no ano seguinte o Prêmio Franz Kafka. Em 2003, foi contemplada com o prêmio Joseph Breitbach de literatura alemã, em 2004 com o prêmio de literatura da Fundação Konrad Adenauer e, em 2006, com o Prêmio Würth de literatura europeia.
De acordo com comunicado divulgado pela sua editora, Hanser Verlag, Herta teria ficado surpreendida com a notícia e terá mesmo dito: “Estou surpreendida e ainda nem acredito, de momento não posso dizer mais nada”.

Uma semana depois, novo prêmio.

Desta vez, pela defesa da paz.
O prêmio Franz Werfel (1890-1945), em memória do escritor judeu de mesmo nome, é concedido a cada dois anos e entregue em 1º de novembro na Igreja de São Paulo, em Frankfurt. A escritora alemã ganhará 10.000 euros pelo romance "Atemschaukel" (sem previsão de lançamento em língua portuguesa), no qual descreve a deportação de um romeno de origem alemã para um campo de trabalho na União Soviética de 1945. Nesse recente trabalho, a Nobel de Literatura descreve "os múltiplos horrores da vida em um campo de trabalho de uma maneira literariamente única", segundo o júri do prêmio Franz Werfel. Para os jurados, o romance de Müller deixa claro que, mesmo após o término da Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos continuaram sendo desrespeitados em amplas partes da Europa.
Um porta-voz da fundação anunciou que, em 1º de outubro, dias antes do anúncio do Nobel de Literatura, um júri já havia escolhido Müller como ganhadora do prêmio de direitos humanos.
O Phallos pede desculpas aos leitores por ainda não ter divulgado a crítica do único livro da autora publicado no Brasil, O compromisso. Ocorre que a única edição contou com apenas mil exemplares e até junho apenas cerca de trezentos haviam sido vendidos, e nenhum veio parar em nossas mãos. Procuramos ainda na bienal de Pernambuco, sem sucesso. Prometemos para breve obter um exemplar e passar nossas opiniões e recomendação.
Esta matéria contou com informações da agência de notícias EFE.

Socó Pombo

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Trecho do novo livro de Saramago


O escritor português e Nobel de Literatura José Saramago lançou seu novo livro, Caim, na feira de Frankfurt. Confira um trecho inicial abaixo:
Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de rugidos e mugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva.
A esposa do autor, Pilar Del Río, fez a seguinte sinopse: "(Saramago questiona) a divindade e o conjunto de normas e preceitos que os homens estabelecem em torno a essa figura para exigir a si mesmos - ou talvez seria melhor dizer para exigir a outros - uma fé inquebrantável e absoluta, em que tudo se justifica, desde negar-se a si mesmo até à extenuação, ou morrer oferecido em sacrifício, ou matar em nome de Deus"

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Saramago chama Igreja de "reacionária" e acusa Bento XVI de "cinismo"


Qua, 14 Out, 04h25

Roma, 14 out (EFE).- O escritor português e Nobel de Literatura (1998) José Saramago chamou o papa Bento XVI de "cínico" e disse que a "insolência reacionária" da Igreja precisa ser combatida com a "insolência da inteligência viva".

"Que Ratzinger tenha a coragem de invocar Deus para reforçar seu neomedievalismo universal, um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual" desta pessoa, disse Saramago em um colóquio com o filósofo italiano Paolo Flores D'Arcais, que hoje lança "Il Fatto Quotidiano".

Saramago, por sua vez, encontra-se na capital italiana para divulgar o livro "O Caderno" e se reunir com amigos italianos, como a vencedora do Nobel de Medicina Rita Levi Montalcini (1986).

No colóquio com Flores D'Arcais, Saramago afirmou que sempre foi um ateu "tranquilo", mas que agora está mudando de ideia.

"As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só tem interesse no poder", afirmou.

Segundo Saramago, a Igreja não se importa com o destino das almas e sempre buscou o controle de seus corpos.

Perguntado se o pouco compromisso dos escritores e intelectuais poderia ser uma das causas da crise da democracia, o escritor disse que sim. Porém, disse que este não seria o único motivo, já que toda a sociedade encontra-se nesta condição, o que provoca uma crise de autoridade, da família, dos costumes, uma crise moral em geral.

Saramago destacou que o fascismo está crescendo na Europa e mostrou-se convencido de que, nos próximos anos, ele "atacará com força". Por isso, ressaltou, "temos que nos preparar para enfrentar o ódio e a sede de vingança que os fascistas estão alimentando".

A visita de Saramago a Roma acontece a um dia do lançamento do seu mais novo livro "Caim", no qual volta a tratar da religião. EFE

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um Phallos ereto contra a decadência da cultura


É inegável que toda a sociedade passa por uma decadência assustadora da cultura. Desejamos com nosso Phallos evidenciar a arte, cortejá-la, pois só com ela conseguiremos dar início (ou reiniciar) ume estruturação forte, com o objetivo de lapidar, transformar o pensamento das pessoas que tenham em suas mãos o Phallos. Pretendendo com isso mostrar a realidade brutal e irrefreável que nos envolve maleficamente.

A decadência da cultura é nítida mesmo aos olhos mais ignorantes; a sua ignorância, porém, não lhes permite perceber as fezes e os espermas que estão sendo colocados diariamente em suas mesas.

O Phallos despreza solenemente todas as limitações categóricas impostas, todas as regras ridículas, irremediavelmente deploráveis e nojentas. Nosso Phallos está sempre ereto para o bem da arte, para evidenciá-la, colocando-a no lugar que merece, acima de qualquer “doutrina”. O nome Phallos não implica dizer que vamos sair por aí fodendo todo o mundo; pelo contrário, quem continuar lendo esse lixo musical, acatando estas regras impostas com segundas intenções, por políticas e políticos inescrupulosos e religiosos fraudulentos, que se foda sozinho.

É, soou a hora e já é tempo do Palmeira dar o fora.

Alessandro Palmeira


“Um só pensamento que nos visita na quietude da noite pode guiar-nos para glória ou para demência.”

Khalil Gibran