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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Borges Cosmopolita



Quem pretende ir a Buenos Aires nas próximas semanas tem um motivo a mais para fazê-lo. Dentro da programação da Casa de la Cultura, bem próximo da Casa Rosada, ocorre a mostra “Borges Cosmopolita”, um perfeito casamento entre escultura e literatura.

Em homenagem ao centésimo décimo primeiro aniversário do escritor argentino, a mostra traz a obra “Libro de la Vida”, do escultor Raúl Farco. Uma árvore com entroncamentos e bifurcações, além de distorções que levam a novos galhos. Como os livros.

Ao redor da árvore, vinte e cinco livros entalhados em pedra, cada um trazendo na capa uma das memoráveis frases de Borges.

Justa homenagem ao homem que imaginava o paraíso como uma espécie de biblioteca, no ano que Buenos Aires foi eleita Capital Mundial do Livro.

Amâncio Siqueira

domingo, 29 de maio de 2011

Gritos inaudíveis que ressoam no âmago


No seu Mundo como Vontade e Representação, Schopenhauer, ao discorrer sobre arte, toma como exemplo a escultura clássica Laocoonte, e discorre sobre as motivações do artista para esculpir sua figura central sem uma expressão de quem grita: “Nas artes plásticas, a representação do grito em si mesmo é completamente deslocada, completamente impossível; por conseguinte, a condição do grito – isto é, essa abertura violenta da boca que transtorna todos os traços e todo o resto da expressão – tornar-se-ia realmente incompreensível, visto que desta maneira e decididamente à custa de muitos sacrifícios apenas se representaria o meio, enquanto que o fim verdadeiro, o próprio grito e o seu efeito sobre a sensibilidade, permaneceria por exprimir.”

Teria Edvard Munch lido estas palavras? Teria encarado-as não como uma verdade, mas como um desafio para o artista? Teria passado os dias e as noites imaginando uma “abertura violenta da boca que transtorna todos os traços e todo o resto da expressão”? Não sei. Entretanto, tenho certeza de que Schopenhauer teria mudado de opinião se tivesse visto o quadro O Grito (Skrik), do pintor norueguês, desde que o filósofo alemão abrisse mão de seu classicismo.

Datado de 1893, a pintura símbolo do Expressionismo parece prever o século vindouro, o século da massificação. Massificação da tecnologia, das linhas de produção, do consumo e da guerra. Massificação da morte nas trincheiras, gulags e campos de concentração. Massificação do pensamento.

O pintor escreveu a respeito da experiência que o inspirou a pintar sua obra-prima, nascida O Desespero, na qual a figura central era um homem de cartola, sendo esta versão seguida por diversas outras, até a figura andrógena totalmente desfigurada da versão mais popular:

“Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza.”

A figura humana aparece “completamente deslocada”, a abertura de sua boca transtorna a própria natureza à sua volta, enquanto a doca de Oslofjord e os homens que passam permanecem indiferentes.

A impossibilidade da pintura de exprimir o grito é exatamente onde reside a força do quadro, sua poderosa carga dramática. O grito mais desesperado passará sem que ninguém esteja atento ao seu barulho. Haverá o barulho do trânsito, das telecomunicações, das máquinas, metralhadoras e bombas. O barulho ensurdecedor da propaganda a determinar como deve comportar-se o homem moderno. Diante disso, o homem que se entende indivíduo deslocado das massas gritará mais e mais, e mais e mais será ignorado.

Contudo, tal grito não cessará, pois é um grito da vontade, um terrível grito da natureza. Creio que Schopenhauer jamais teve acesso a uma obra que tivesse tanta relação com sua teoria estética, que exprimisse tão grandiosamente a marca do gênio, esse ser capaz de exprimir não um conceito, mas uma ideia. Uma ideia que pudesse resumir todo um século por vir, embora não pudesse jamais ser resumida apenas a esse século. Uma ideia que ecoaria ainda por milênios.

Era necessária uma forma de arte absolutamente silenciosa para que esse grito desesperado pudesse ser ouvido.

Socó Pombo

segunda-feira, 1 de março de 2010

O Narciso e o Louco

Pintura: Salvador Dalí - Metamorfose de Narciso

Ajoelhado com suas mãos apoiadas no chão ou no próprio corpo, ele admira sua face nas cristalinas águas de um lago maravilhoso e divino como seu reflexo que exalta a criação e o criador, beleza que encanta seu possuidor e, como num sonho, entrega-se ao prazer da contemplação.
O sonho em tintas renascentistas cede suas cores e formas às mãos de Morfeu, senhor do abstrato, e transforma-se na sua verdadeira e louca face, absurda e caótica em busca de desvendamento ou eterna ocultação em obscuridade e mistério.
Salvador Dalí olha sua face à beira de um lago e vê-se Narciso e Dalí, transmuta o mundo com sua visão e tintas, mostra a beleza anárquica de suas ilusões ao mundo, mundo onde tudo pode acontecer e em que o ornitorrinco sente-se envergonhado e, cabisbaixo, dá-se por derrotado, pois nem ele é tão estranho e genial.
Dos ovos que nascem ornitorrincos, Dalí retira homens, plantas e ilusões, seu tempo derretendo-se ao escaldante sol faz-nos esperar o imprevisível e anormal em telas que, antes brancas, cederam aos toques da loucura: de Dalí, de Morfeu, de uma profecia de um existir irreal.

Márcio Jardson

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dança!

Pôster do filme Zorba, o grego, baseado em obra homônima de Kazantzakis

“Há em mim um diabo que grita, e eu faço o que ele diz. Cada vez que eu estou a ponto de sufocar, ele diz: ‘Dança’, e eu danço.E isso me alivia! Uma vez, quando meu pequeno Dimitráki morreu, na Halkidikí, eu me levantei e dancei.Os parentes e amigos, ao me virem dançar assim diante do corpo,se precipitaram sobre mim para me fazer parar.‘Zorba ficou louco!’, eles gritavam. ‘Zorba ficou louco!’ Mas eu, se não dançasse naquele momento, aí sim, eu ficaria louco de dor. Porque ele era o meu primeiro filho e tinha três anos, e eu não podia suportar a sua perda. Você compreende o que estou dizendo, ou estou falando para as paredes?”
Nikos Kazantzakis, Zorba, o grego

sábado, 3 de outubro de 2009

Gênio atormentado


Pintura: Auto-retrato - Van Gogh
A genialidade e a loucura estão presentes na obra de Vincent Van Gogh, o gênio holandês que reinventava a natureza e o seu esplendor e viveu de angústias e centavos (não tinha dinheiro nem para as mínimas despesas). Van Gogh foi sustentado toda a sua vida pelo irmãoThéo. Sem dúvida, Van Gogh foi um gênio atacado pela loucura; talvez sem ela não tivesse sido gênio. A loucura o levou a realizar um dos episódios mais loucos e geniais da história do amor e da arte, quando o pintor arrancou a orelha direita para provar o amor que sentia por uma prostituta local. Naquele instante Van Gogh era a própria expressão da tristeza: sua vida ruía, não tinha dinheiro nem amigos, sua arte não era reconhecida por ninguém. Era, porém, o sentido da sua vida. A pintura do seu auto-retrato expressa o tormento que invadia a sua alma, dando formas e cores à loucura que um dia o levaria ao suicídio. no seu auto-retrato tornou-se possível ver e tocar a loucura com a ponta dos dedos. Seus sentimentos parecem explodir na tela.

Alessandro Palmeira

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Picasso n'As Senhoras de Avignon


Pintura: Picasso: "Les Demoiselles d'Avignon"

Não poderíamos começar as críticas das artes plásticas do Phallos com outro nome de múltiplo sentido mais pertinente que Picasso. E, como o Phallos pende para o lado feminino, falemos das Senhoras de Avignon.
Uma nova estruturação plástica nasceu a partir deste quadro, que permaneceu inacabado. Picasso rompeu com o cabaço de todo e qualquer conceito tradicional de proporcionalidade, beleza, harmonização das formas e perspectiva. Resultado de uma leitura intimista da arte negra, a obra ganhou duas personagens primitivas, cujas cabeças parecem talhadas a machado. Podemos afirmar que a própria estética rígida era rompida a machado. O contraste com o restante do quadro é acentuado pela cor empregada e pelo furor na expressão. Um escândalo às convenções da arte ocidental, causando uma confusão até hoje evidente no seio da classe burguesa, que consome esta arte sem compreender sua beleza. As duas figuras da direita (de quem observa) certamente são sementes do cubismo. O quadro mescla tendências. A personagem central, em posição sensual, e a da esquerda lembram a fase rosa e são belas se comparadas aos corpos deformados da ala Primitivista. Já a figura da esquerda, estática, parece usar uma máscara. O que todas as personagens têm em comum é uma rara geometrização, numa ânsia de Picasso de destruir tudo e arrebatar o mundo com a nova concepção estética.
Um verdadeiro Phallos deflorava as barreiras da arte para criar um novo cânone, não mais sagrado. O cânone da liberdade criativa.

Texto cedido pela Pinacoteca Caras.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Arte além da arte


Inicialmente, não seria possível uma conceituação do termo “arte”. Em si ela não mais sustentaria uma definição ou entendimento, dado o caráter subjetivo em que a manifestação acontece. É preciso transcender todas as barreiras da estética, e assumir uma postura poética mais condizente com a carência humana de externar. Uma necessidae pulsante de rasgar o peito, como uma erupção, uma denúncia da existência trágica e precisa do ser. Porém, não há a necessidade de entendimento. É um fluir de sentimentos presos, de libertação. Libertação de estado de espírito numa manifestação de sensibilidade aparente, muito pouco explicável...Arte múltipla e plural que nos chega dos mais diferentes ângulos e paisagens. Atravessando-nos o limite da percepção e nos mostrando a beleza do trágico. Seja na poesia dos palhaços ou quem sabe a pintura que nos fica na mente ao ver um mendigo dormindo na porta de uma igreja. São as portas do metafísico nos convidando à superação do palpável, nos levando a lugar algum e a todos os lugares. Uma possibilidade de criações interminável. Finalizo deixando o filosofo alemão Nietzsche falar: “A arte só existe para que a verdade não nos destrua.

Por Thiago Caldas