domingo, 3 de outubro de 2010
De caso com Destino
terça-feira, 13 de julho de 2010
Inundando-me no viver - Como não seria assim?

É só dar um vento no capinzal, que lá está ele. Confundo-me no que é mais belo, se o capinzal ou a minha procura de um olhar.
Valsando com a menina dos meus olhos, ele faz do meu sono uma festa.
Esconde-se na cortina entrelaçada dos meus cílios para depois me desejar bom dia.
Brinca de acalento nos meus cabelos, trançando de poema minha manhã.
Quando triste, ele flutua nas minhas lágrimas e chora junto com elas.
Do meu olhar o que será ele, senão uma eterna colheita?
Uma apreciação.
Tão colibri ele é, fazendo pouso na saudade já apurada como mel de flor.
Do sempre, quero somente o manchado envelhecido do tempo nas folhas de um papel em que deixarei escrita a devoção das minhas palavras.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Desabrigando anseios

Como pássaro que vai embora por uma distração do seu dono e nunca mais volta à gaiola.
Joguei fora aquele brinco, cujo par eu perdera em uma noite que já não faz mais sentindo algum.
Também deixei que escapasse o cheiro envelhecido das pétalas mortas de amor perfeito que eu guardara dentro daquele livro predileto.
Acordei aqueles olhos inocentes que dormiam em um sonho fugitivo.
Abri as comportas e me deixei levar pela correnteza.
Do silêncio deixado jorrar, ouvi gritos contidos naquele velho sigilo trancado.
Fugindo, fui deixando pelo caminho as peças de roupas que não me serviam mais.
Percebi que era pouco o que tinha agora.
Parei, olhei tudo se dissipando e segui, levando apenas um bando de pensamentos.
Só isso.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Solidão: lado a lado com ela

Quando sinto o seu cheiro pela rua e o leve toque das suas mãos acariciando meu corpo.
Apavora-me e encanta, a sua respiração ofegante arfando ao meu lado. Quando apago as luzes e a sua alma gelada de fantasma me perturba e dorme ao meu lado.
Tenho medo dessa solidão que chega de repente no riso inexpressivo.
Dessa solidão que me aborda na hora do choro sem um ombro disponível ao sofrer impregnado.
Solidão é a falta de ar quando dói o peito.
Tenho medo da solidão no copo vazio, quando espero alguém com carinho.
Tenho medo da solidão em cada ruga que me aparece.
Onde tenho mais medo da solidão, é quando a encontro ao redor de quem eu queria companhia.
A solidão me afeta os nervos, desfigura meus sonhos.
Com ela nos encontramos em terra fria.
Tenho que suportar a solidão quando se faz em nó na garganta.
Tenho medo da solidão nas palavras.
Quando o coração chama em silêncio pelo amado.
Tenho medo dos seus olhos na embriaguez barata que se estende na madrugada.
Na manhã cheia de ressaca amarrotada de noite.
Demasiado é o degustar da sua companhia.
E, quando a chuva vier, quero me despir dessa capa nostálgica que me envolve.
Molhar-me na abundância de uma coisa chamada vida.
Não compreendo, mas a solidão me alucina.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Adornando a Solidão de uma Manhã

Seu olhar perdido nos delírios daquela ilusão de chuva ansiava por descobrir os sabores de tantos poemas celestes que agora caíam em suas mãos pequenas e delicadas.
A essência das flores perfumadas que aromatizam a manhã da moça sorridente é trazida pelo vento que chega sorrateiro, para não roubá-la da paisagem em que está inundada.
Uma melancolia nasce, chega com a leveza dos pingos que se despendem choramingados nas margaridas que, por gentileza, nasceram nas pequenas brechas que as pedras deixaram aleatoriamente.
Quem via aquela cena, jurava que nada de mais importante estaria acontecendo naquela manhã com semblante de pintura, uma manhã agasalhada com seus cachecóis.
Mas, alimentando de alegria os olhos daquela moça, um casulo se rompeu e o velho canteiro de flores se alegrou com a chegada colorida de uma borboleta ainda menina, mas que carregava nas suas asas a alegria de uma primavera.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Rasgando a dor e agonizando um sentir

As cobertas aquecidas quase não me deixaram levantar, com frio leve que adornava o meu quarto.
Acordada, comecei a fazer as primeiras coisas do meu dia corriqueiro.
Tomei meu café da manhã e, amante devota, pensei nele como prato predileto, claro que com essa refeição me alimento sempre em pequenas porções para que seu fim seja tardio.
O que vou fazer do meu dia? pensei.
Primeiro quero degustar todos os temperos solitários dessa manhã, em que me olho tristemente no espelho para não me sentir tão só.
Meus olhos são vazios.
Vejo-te pelos quatro cantos da casa.
Queria ser dança para os teus passos desnorteados.
Queria ter, aos teus olhos, uma elegância no caminhar.
Amo os teus vícios, a tua elegância quase rude.
Queria eu que a simetria das minhas curvas fosse perfeita para os teus caprichos.
Sinto a lembrança me beijando a pele, os meus dedos entre os teus cabelos pequenos.
E um cansaço lacrimejado me abriga, como casinha no campo em plena tempestade.
Diante das algemas, estou entregue.
Hoje o que tenho a te ofertar são as minhas dores, meus cansaços, os meus braços já entregues à seringa, doando a última lágrima de sangue que resta nas veias.
Vivo sempre adubando meus dias, mas sempre vem o verão e resseca a terra em que minhas ilusões foram plantadas.
Meu corpo não tem luz própria.
Cá dentro dói.
Teus olhos outonos me deixam triste.
O enigma da fumaça se misturou a meu sonho e agora não sei me decifrar.
Tudo é tão sombrio.
Quero a embriaguez das melhores flores para o meu dia fúnebre.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Na margem do tempo
Passei os olhos por ele, monotonamente.
E cada gota sua parecia lágrima, um orvalho, talvez.
Uma coisa sem forma.
Quem sabe também, um amanhã que não virá ou que um dia já passou voando além de mim.
Bem acima dos meus sonhos, há uma casa vazia cheia de vento.
Já o vento, é um belo companheiro, pena que passa e tudo decorre através de suas correntes prazerosas.
E eu sentada num pedaço de lugar, de qualquer lugar, observo tudo ir embora preso aos outros.
E tudo e ele.
E eu permanecendo pedra por fora e sonho por dentro, talvez exista.
Como dói transbordar.
E ele escorre, desliza vagaroso, sem pressa.
Umedecendo minha alma, como noite fria na calçada.
Um relento coberto.
Boneca de pano jogada fora.
E, entre o entrelaçado de galhos e folhas tecendo raios de sol, ele também se aflora e eu ainda aconteço como flor, por um instante somente.
Quão bela é a sensação que existe no intervalo das lágrimas, um mundo perdido em uma lembrança.
Florescendo para um sonho vou embora e a torrente se inicia.
Tudo transborda e se faz em correntezas.
Tempo, tempo...
Onde tu estás?
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Saudade: Fragmentos

Nesta categoria de poetas dançarinos, embebidos do ritmo das palavras, colocaria Carpinejar, Palmeira e a nova poetisa Izabel Goveia, que tem bailado em seus textos ao ritmo da insensatez do seu sentir, todo silêncio de palavras tecido.
A música que Goveia capta das palavras é, a despeito de toda sua carga de feminilidade, um balé infantil, de espontânea ludicidade, uma ciranda de palavras tristes. Como criança que brinca sozinha, embora as palavras sejam suas companheiras de brincadeira. Observa-se que não há nada fabricado com esforço, nada coagido, como profissão. São jogos espontâneos. Talvez por ser apenas brincadeira haja ainda poucos textos de Goveia, mas com grande valor literário.
Todavia, não são apenas ritmo as palavras que monologam seus diálogos ao ouvido da poetisa. São sentimento entranhado, caos encravado no peito. Palavras em fuga. Da alma e do papel. As palavras passam esvoaçantes diante de nossos olhos marejados, cada uma com personalidade própria. E são geniosas essas palavras que habitam Izabel. Não se deixam confundir, embora apreciem a confusão. Dotadas não apenas de vida, mas de asas, voam sob o luar choroso das emoções da poetisa.
O ser de Izabel Goveia é gaiola, na qual estão presos esses pássaros-emoção, que voam alegres quando os olhos da poeta se abrem em lágrimas e sorrisos. Lágrimas de liberdade. Sorrisos de poesia. Aves famintas de existir, loucas por voar a vida, esvoaçar suas nuances.
Um verdadeiro delírio de sentidos, tais aves emigram como nós, humanos incapazes de voar, dos plátanos do desejo ao deserto da saudade. São plenitude de vida. E vida é sofrimento. É dor o que nos mostra que ainda podemos, que ainda há passos na caminhada. Que ser é saudade. Sim, esses pássaros govenianos emigram, apenas para sentir no peito o agudo dolorir da saudade de seus lugares. São muitos os lugares, pois no peito da poetisa há uma enlaçada saudade de si mesma, este lugar-existir. Sua poesia é um fugir pra dentro.
Sim, as palavras de Goveia escorrem entre os dedos, porém sem gravidade: escorrem para o ar, flutuantes ao vento de seu sentir-saudade.
Cabe-nos apenas deliciar-nos com este vôo de emoção, esperando que Izabel Goveia abra mais vezes a gaiola do seu ser e liberte-se, bailando no ar junto de suas palavraves.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Fragmentos de Saudades - Prefácio
A poetisa afogadense Izabel Goveia faz melodia do próprio silêncio e, da solidão, a melhor companhia. Hipnóticos e arrebatadores, os versos do seu livro Fragmentos de Saudades nos conduzem ao sentir de uma poesia acontecida em cascata. Poesia com cheiro e textura de alma.
Izabel existe veementemente. Faz de sua vida um delírio poético. A poetisa poema a ebriedade dos acontecimentos, nos dando o prazer de embriagarmo-nos em seus porres verbais. Izabel sabe muito bem fazer dançar a sua vida e o valsar de suas palavras segue o ritmo envolvente de um bolero de Ravel. A poetisa não modela teses para explicar sua essência poética, ela evidencia, com a elegância de suas palavras, a polidez do seu percurso criativo.
Em um de seus poemas a escritora nos diz: “Uma carência perene se faz em mim, nas ruas em que mendigo um pouco de vida.” Nessas questões da alma, ela não nos ensina a experimentar a dor, mas a sabermos doer.
Um exemplo contundente de sua excelência poética está na confissão: “Eu queria mesmo era a tua biografia escrita em minha pele. Mas o que tenho são os teus rascunhos indecifráveis”. Izabel é dona de uma escrita pujante e límpida. O laconismo de alguns versos evidencia o seu modo sereno de sintetizar a existência. O seu existir é um eterno despir-se para as coisas belas da vida. Amante da natureza, ela reverencia com versos tenros o que lhe oferecem os lírios.
O livro traz em seu bojo a sensibilidade inerente ao espírito irrequieto e criativo da poetisa. Um livro profundo e marcante. Poesia viva, de doer na carne e deixar marcas de cicatrizes na alma. Poesia de vestes líricas, de transbordante ternura. Fragmentos de Saudades não é um livro, é um estado de espírito.
Alessandro Palmeira
Fragmentos de Saudades
O escritor Alessandro Palmeira prefaciou a obra.
O livro conta ainda com belas imagens de Edierque Santana, pintor e ilustrador, que dão ainda mais vida aos belos poemas.
O livro pode ser adquirido pelo saite Clube de Autores, no linque http://clubedeautores.com.br/book/10069--Fragmentos_de_Saudades
sábado, 26 de dezembro de 2009
A INSTROSPECÇÃO DA ROSA EM TERRENO FEMININO
Descobrir.
É assim que tem que ser.
Como um jardineiro busca a beleza de suas rosas cultivando seu jardim todos os dias.
Tem que adubá-lo corretamente, regá-lo nas horas certas, para que, assim, possam nascer novos galhos, novas folhas e flores exalando perfume.
Quando não requer desses cuidados, a rosa chora, emurchece e fica despetalada, ausente dos carinhos das mãos daquele homem que a faz sentir-se em plenitude no seu amanhecer.
Um carinho de orvalho deslizando pelos seus contornos.
Quando está triste, sonha com um colibri.
Na salvação de um beijo, conduzindo sua essência para um germinar em outro mundo, coberto de sensações.
O vento noturno a faz sentir a dor arranhando as suas pétalas e perfumando outros espaços com o cheiro de seus cabelos.
Aroma de mato recém-nascido
Tão misteriosa é a sua beleza.
Morrer para renascer.
Enfim.