quarta-feira, 19 de maio de 2010

Desabrigando anseios


Um dia fugi de casa.
Como pássaro que vai embora por uma distração do seu dono e nunca mais volta à gaiola.
Joguei fora aquele brinco, cujo par eu perdera em uma noite que já não faz mais sentindo algum.
Também deixei que escapasse o cheiro envelhecido das pétalas mortas de amor perfeito que eu guardara dentro daquele livro predileto.
Acordei aqueles olhos inocentes que dormiam em um sonho fugitivo.
Abri as comportas e me deixei levar pela correnteza.
D
o silêncio deixado jorrar, ouvi gritos contidos naquele velho sigilo trancado.
Fugindo, fui deixando pelo caminho as peças de roupas que não me serviam mais.
Percebi que era pouco o que tinha agora.
Parei, olhei tudo se dissipando e segui, levando apenas um bando de pensamentos.
Só isso.

Izabel Goveia

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