sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Na margem do tempo

Pintura: J. R. Nettzo

Tempo, tempo...
Passei os olhos por ele, monotonamente.
E cada gota sua parecia lágrima, um orvalho, talvez.
Uma coisa sem forma.
Quem sabe também, um amanhã que não virá ou que um dia já passou voando além de mim.
Bem acima dos meus sonhos, há uma casa vazia cheia de vento.
Já o vento, é um belo companheiro, pena que passa e tudo decorre através de suas correntes prazerosas.
E eu sentada num pedaço de lugar, de qualquer lugar, observo tudo ir embora preso aos outros.
E tudo e ele.
E eu permanecendo pedra por fora e sonho por dentro, talvez exista.
Como dói transbordar.
E ele escorre, desliza vagaroso, sem pressa.
Umedecendo minha alma, como noite fria na calçada.
Um relento coberto.
Boneca de pano jogada fora.
E, entre o entrelaçado de galhos e folhas tecendo raios de sol, ele também se aflora e eu ainda aconteço como flor, por um instante somente.
Quão bela é a sensação que existe no intervalo das lágrimas, um mundo perdido em uma lembrança.
Florescendo para um sonho vou embora e a torrente se inicia.
Tudo transborda e se faz em correntezas.
Tempo, tempo...
Onde tu estás?

Izabel Goveia

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