segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Balada para um Louco

Pintura: Bosch - A nau dos Loucos

Uma lembrança viva da minha adolescência é a lojinha de tia Estela. Tal lojinha ficava na minha rua e o "vendedor" era o Plameira. Grande divulgador de literatura e incentivador da leitura que é o Palmeira, o apertado espaço da loja, coisa de oito metros quadrados, tornou-se ponto de encontro da elite literária afogadense: os adolescentes Amâncio Siqueira, Márcio Jardson, Jahiel Nunes e Edgar Cruz. Vez por outra, Jean Carlos, Bruno Senhor e Nailton Barbosa davam as caras. Roubávamos livros uns dos outros, e uns roubavam os livros roubados dos outros e emprestavam para os antigos proprietários, que os devolviam aos ladrões originais. Acredito que todos os citados lembram-se do aparelho de som que Palmeira tinha no local. Um toca-fitas já bem surrado. As fitas que ele levava também já não estavam em bom estado. Mas as músicas que adivinhávamos ao ouvi-lo eram uma haste de algodão para ouvidos entupidos de forró estilizado, sertanejo country e axé. Havia de um tudo: Ravel, Wagner, Raul, Chico, Milton e muito mais. Entre as músicas, uma me chamou especial atenção: Balada para um louco (viva os loucos que inventaram o amor), na voz de Moacir Franco. É claro que eu não sabia o título naquele tempo. A fita não tinha, pelo que lembro, o intróito, começando diretamente no trecho "Louco, louco, louco...". Quando digo que adivinhava a música não estou brincando. Minha versão, ou seja, o que ouvia dos ruídos do som era o seguinte:
Louco, louco, louco, foi o que disseram quando disse que te amei,
Mas naveguei nas águas turvas dos teus olhos,
E confesso, fui Antibes, e invadi teu coração.
Trazemos aqui a versão completa em vídeo e apresentamos não apenas o título, como também a autoria, de Astor Piazzolla e Horácio Ferres. Como o Phallos não é um blogue de memórias, embora sejam as memórias que nos levem a escrever, o objetivo aqui não é apenas relembrar, mas despertar o interesse de novos leitores e ouvintes. Trata-se de um incrível poema à liberdade, à criatividade, à alegria. Um elogio à loucura que ilumina a vida. Sim, o amor é para os loucos, então que estes o cantem.
"Como um acrobata demente saltarei
dentro do abismo da tua mente, até sentir
que enlouqueci teu coração e, de tão livre, chorarei."
Amâncio Siqueira