Dom Francisco ao lado de Dom Hélder
Algumas pessoas, pela falta de costume de ler, interpretam mal os textos lidos. Outras os interpretam incorretamente pela comodidade da polêmica, ou da inversão do que significam. Para estes leitores dirijo esta resposta.
Alessandro Palmeira é um homem respeitável e um excelente poeta, pelo qual nutro indelével admiração. Francisco Austregésilo foi um grande homem, que merece homenagens, assim como outro Francisco, que viveu na cidade de Assis antes do renascimento. A crítica que fiz no meu texto O profeta do sertão não se dirigiu a um ou outro. Critiquei aqueles que valorizam não Francisco Austregésilo, mas o Dom que o antecede. Não sou dado a julgar ninguém, e muito menos o faria pela fé que professa, ao contrário destes que citei.
Dom Francisco se engrandece pelo seu caráter, pela sua coragem e desapego. Pela sua dedicação às causas que defendia. Ao contrário dos que o substituíram, não usou o púlpito para pregar paraísos irreais, mas para denunciar as injustiças e conclamar o povo à luta. Não usou o Dom para politicagens dentro da igreja, para residir em palácios, mas para servir de norte a um povo sofrido, de voz aos silenciados pelos poderes dominantes.
Não tolero e jamais tolerarei a hipocrisia, e não me tornarei hipócrita para agradar ninguém. Se tiver alguma queixa contra qualquer coisa e qualquer pessoa, não me furtarei à verdade para satisfazer um contrato social que não assinei e mesmo assim pretende emburrecer-me e silenciar-me, como diria meu amigo Amâncio.
É fato que Francisco Austregésilo defendeu dogmas da igreja dos quais discordo, como a proibição do aborto e do uso de contraceptivos, entre outros que deveriam dizer respeito à medicina, não à religião. Mas, assim como não deixo de admirar Aristóteles, mesmo tendo este defendido a escravidão, não deixarei de admirá-lo. Os homens vivem no tempo, e em seu tempo demonstram se suas ideias e ideais são progressistas ou retrógrados. E o bispo foi um progressista inconteste.
Não é porque há os que o exaltam não pelo que foi, mas pelo Dom que teve, que sendo não-religioso farei o inverso e esquecerei de quem foi para depreciá-lo por este mesmo Dom.
Só posso lamentar por estes que julgam um homem não pelo seu caráter, mas pela religião que defende. Não honram o Francisco que de tão religiosamente tolerante trazia uma Mesquita no nome. É a estes que minha crítica se dirige.
Socó Pombo
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