terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Devir do Devaneio

Pintura: Salvador Dalí - Visagem paranóica

O devaneio é o mais retumbante devir. O homem é o mais passageiro dos seres, pois assim se reconhece e jamais se deixa ser o mesmo. Apenas a mudança é constante, e no devaneio o homem se muda e molda dentro de si múltiplos existires. Universos de inexistência tomam-lhe a mente e sonhos realizam seus anseios por ser, mesmo que transitoriamente e apenas para si mesmo.
O humano busca o próprio ser, sua essência, que apenas na própria aniquilação se realizará. Somente com a morte o ego se realiza. Sem mais possibilidades de mudança, o ser enfim se define. Definição também passageira, pois logo esquecida no devir do tempo.
Quando sobrevém o fim o ego é preenchido de certezas.
Somente no inexistir há certeza. Existir é duvidar. Ser é incompletude e anseio.
No devaneio uma multidão de eus reclamam uma fagulha de existência. Não requerem lógica ou perfeição. Não pedem matéria ou conceito. Desprezam mesmo uma imagem fixa e específico nome.
Ao contrário do que pensa o senso-comum, devanear não é um “sonhar-acordado”; é mais propriamente um despertar dos sonhos, um dormir para um único ego, que embala a realidade de uma multidão de fragmentos.
No devaneio o louco descobre na multidão de almas que o habitam o seu verdadeiro ser.
Amâncio Siqueira, Eu, no Hospício

Nenhum comentário: