terça-feira, 17 de novembro de 2009

O labirinto do coração

Pintura: Norman Rockwell - Triplo auto-retrato

Quando temos verdadeiros amigos, ignoramos o que é verdadeiramente a solidão, mesmo que tenhamos o mundo contra nós. Infelizmente percebo, contudo, que realmente se ignora o que é ver a solidão crescendo em torno de alguém. Em toda parte onde houve sociedades, autoridades, religiões, opiniões públicas poderosas, em resumo, em toda parte onde houve uma tirania, ela perseguiu com seu ódio o filósofo solitário, pois a filosofia oferece ao homem um asilo onde nenhuma tirania pode penetrar, o foro íntimo, o labirinto do coração; e é isso que indispõe os tiranos. É o refúgio dos solitários, mas é ali também que o maior dos perigos os espia. Esses homens que abrigaram sua liberdade no fundo de si mesmos são obrigados também a ter uma vida exterior, a se mostrar, a se deixarem ver; pelo fato de seu nascimento, de seu domicílio, de sua educação, de sua pátria, do acaso, da indiscrição dos outros, eles se vêem empenhados em numerosas relações humanas; a eles é conferida toda espécie de opiniões, pelo simples fato de que são as opiniões reinantes; toda expressão fisionômica que não seja negativa passa por aprovação; todo gesto que não destrói nada é interpretado como adesão.

Nietzsche

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