terça-feira, 17 de novembro de 2009

Para ter a alegria de dizer que não sou normal. E que escrever é a loucura de gramaticar erros

Pintura - Oswaldo Guayasamín, Manos ternura

Eu me falou que se entrega inteiro para a vida, por causa das mortes que teve. Diz que sua intensidade nasceu delas. Eu me confessa que tem medo de ficar só. E que minha companhia é solidão. Particularmente amo suas mortes. Há vida demais nelas. Espero que suas mãos me conduzam. Espero que Eu me leve para qualquer existir. Eu se diz repleto de mim. Queria receber teus olhos. Queria provar teu me ser. Eu me diz que não tem olhos, e seu mim é navalha cortando a carne do verbo. O meu dia é este hoje. O que tu me sou. O meu dia é esta noite impune e desmemoriada a tanto. O meu ser é este eu delirante. O meu dia é este ontem dando mais eu a este sou. Aconteço em consonância com a tempestade de mim. Tempesteio. Eu me inunda de si. Eu me transborda. Eu me sussurra. Assustadiço Eu contempla minha ebriedade. É vida pulsando dentro de mim este Eu. Rezo minha loucura. Santifico-a com a enfermidade do verbo. As palavras me vestem e me desnudam.
Não tenho alma. Uma alma me tem. Mendigo um me ser.

Alessandro Palmeira

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