terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Os Jogadores - Parte II


Parece aos mortais este existir sem sucessos ou surpresas um infinito tédio. E assim o é, pois apenas no tédio reside a durabilidade do tempo.
Para os efêmeros deram os jogadores uma outra maneira de sentir a eternidade: a Poesia. Por meio de olhos de poeta pode o mortal transformar o mais pueril momento de tédio em tela de ímpar beleza. A beleza dá aos efêmeros um sublime e passageiro sabor de eternidade. E nisso consiste seu encantamento. Uma fugaz sensação de eternidade.
Consciências e instintos esfacelam-se a cada lance; entretanto, jamais uma única partícula deixou o tabuleiro. Tas partículas carregam em si toda a memória dos infinitos seres que compuseram. Ao fim do Jogo, antes que se vá por fim mais uma encarnação dos Arquétipos, os jogadores experimentam um riso de regozijo ao indagarem um elétron e descobrir que este foi estrela, alga, celacanto, verme, água, crocodilo, espinossauro, bactéria, relva, macaco, tigre, criança e verme. Ao término do existir, espantam-se com a beleza dos acasos de jogadas que conduziram ao já esperado fim.
Nos milhões de jogos que são um só Jogo há algo em comum: todas as centenas de jogadas sobrepostas, pensadas e pesadas, culminam num inesperado clímax de vazio e sensação de improviso e surpresa.

Amâncio Siqueira

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