quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A minha morte se morreu


A minha morte cometeu suicídio em plena primavera. Achou-a a mais bela das estações. Desejava partir com cheiro de vida e jasmim.
A minha morte “se morreu”.
Quando o clima estava propício para o amor, a minha morte se matou. Quando os meus olhos pediam que viesse, ela resolveu partir. Não sei com qual roupa, não sei se a paisagem era propícia para tal encantamento. Não sei se ela me amava, se me queria perto, se meus lábios eram por ela desejados. Minha morte não deixou bilhete, testamento, nem romance escrito. A minha morte madrugou meu olhar. A minha morte não suportou o seu amor pela vida. Avistei minha morte pela primeira vez em uma mesa de bar. Ela tomava vinho tinto, tinha unhas escarlates, lábios rubros, cigarro entre os dedos e falava silente. Havia um outro copo sobre a mesa e um poema encharcado de vinho. Havia espera.
A minha morte me aguardava enquanto eu delirava para vida.
Queria saber sua idade. De quantas vidas havia provado. Por quantas vidas se apaixonou. Quantos amores a acometeram, quantos poemas lhe prestaram tributo. A minha morte me deixou um vazio absurdo. Com isso, pude compreender que ela também me era.
Ainda há companhia.
A minha morte me avizinha, mesmo depois de ida.

Alessandro Palmeira

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