sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nikos Kazantzakis - Parte I

Kazantzakis revisando A Odisséia

Este é o primeiro artigo de muitos a respeito deste que é o maior escritor grego moderno (em minha opinião, o maior escritor moderno e, quiçá, de todos os tempos). A princípio dividiremos em três partes um artigo sobra sua biografia, dando sequência com a crítica introdutória aos seus livros mais importantes. Não é meu objetivo abarcar aqui toda sua obra e biografia. Apenas uma breve apresentação. Aliás, todos os textos subseqüentes terão este caráter, posto que um milhão de palavras minhas sobre sua obra não valeriam a leitura de um dos seus textos.
Nikos Kazantzakis nasceu na ilha de Creta durante o domínio turco, em 18 de fevereiro de 1883. Para fugir da instabilidade política na terra natal, os pais de Nikos Kazantzakis inscreveram-no numa escola de padres franceses na ilha de Naxos. Sua literatura e filosofia, porém, jamais fugiriam dessa realidade de luta. Pelo contrário, a paixão com que encara qualquer tema, a veemência e violência literária com que aborda a realidade do ser humano demonstram a influência das guerras de independência em seu espírito, mais até do que os personagens que vivenciam a guerra em seus romances. Entre 1902 e 1906 estudou direito em Atenas. Nessa época começou a publicar seus primeiros textos. Em 1907, sua peça "O Dia está Raiando" foi encenada em Atenas, em meio a grande controvérsia. Em outubro deste mesmo ano, Kazantzakis mudou-se para Paris, para estudar com seu tutor, o filósofo Henri Bergson. Na capital francesa, começou uma carreira de escritor e jornalista. Reclamava na sua correspondência das dificuldades de viver na então capital mundial da cultura. Viajou à União Soviética a convite do governo bolchevique, escrevendo nesta fase o romance Toda Raba. Entusiasta do cinema, arte bem recente naquela época, o romance parece um roteiro cinematográfico, com cortes de cena rápidos, superposição de cenários e rapidez lingüística e imagética. Parece um livro para durar o tempo de uma película (que duravam algumas horas a mais do que atualmente). Ou um filme para ser lido. Kazantzakis demonstra já aqui sua exuberância criativa, sua incrível capacidade narrativa. Os personagens sucedem-se rápidos e densos, assim como suas descrições. Seu espírito violentamente livre também não passa despercebido. Entusiasta da revolução russa, não deixa, porém, de fazer uma previsão pessimista na voz do personagem Ephraim Michalovitch: “Eu sei ainda isto que vocês, os comunistas, não sabem, não ousam saber: logo que os assaltantes tomarem o poder – a mesa – eles começarão, eles também, a engordar e a se entorpecer. E outras massas sofredoras e famintas surgirão de novo sobre a terra. Assim, as torrentes humanas sobem e descem em cadência, sem trégua, até o fim dos séculos. É isso que sei, ó alminhas práticas!”
Uma previsão que antecipava o romance “A Revolução dos bichos (Animal Farm)”, de George Orwell, no mundo literário, e os abusos que seriam cometidos pelo regime posteriormente, sob o controle de Stálin, na esfera política.


Francisco de Assis Socó Pombo

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